Resenhas

Chilly Gonzales – Chambers

Músico recria a Música Romântica inspirada no universo Pop atual

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Ano: 2015
Selo: Gentle Threat
# Faixas: 12
Estilos: Instrumental
Duração: 39:37
Nota: 4.0
Produção: Chilly Gonzales

“Hello, I’m Chilly Gonzales the musical genius”. Essa frase introdutória recheada de auto-promoção foi a última coisa que ouvi vinda do compositor canadense, e também a respeito dele mesmo, ainda no ano passado. E, de fato, parece ser o ponto de partida ideal para entendermos melhor esse artista tão plural.

A primeira coisa a saber sobre Jason Charles Beck, ou Chilly Gonzales, é que ele é um virtuoso, não apenas na digitação do piano, mas também da composição. Seu domínio e noção sobre harmonias, acordes, notas e ritmos são o pressuposto de uma série muito interessante de vídeo-aulas do artista (justamente de onde ouvi sua apresentação pouco modesta), nas quais ele disseca canções do Pop e aprofunda nosso conhecimento estrutural sobre as mesmas, mostrando o quanto de arquitetura e planejamento os hits precisam para se tornarem destaque na indústria musical.

Chilly Gonzales’ “Pop Music Masterclass” featuring Lykke Li’s “No Rest For The Wicked” from Chilly Gonzales on Vimeo.

Gonzales sempre pareceu agir sob influência do fantasma da erudição: sempre tentou se desafiar apostando numa participação cativa dentro do Hip Hop, seja em parcerias, seja em projetos próprios. Compôs, produziu e assessorou diversos nomes ligados ao mainstream – da artista Indie [Feist](http://wordpress-214585-650819.cloudwaysapps.com//artistas/30/feist/) até o fenômeno Eletrônico francês [Daft Punk](http://wordpress-214585-650819.cloudwaysapps.com//artistas/459/daft-punk/) -, onde parece encontrar um respiro de um universo que não é necessariamente tão tecnocrata. Quando sozinho (e mais afastado do Hip Hop), sempre aposta no clima jocoso das piadinhas sarcásticas, da metaliguagem autorreferencial dos nomes de suas músicas e do teor cafona de suas aspirações artísticas para suavizar o aspecto sisudo de sua música instrumental. Por todas essas razões, sabemos, ao menos na teoria ou na essência, o que esperar de ***Chambers***, seu lançamento da vez. Embora não seja tão obscuro quanto seu nome sugere, o álbum instrumental (com exceção da última faixa, na qual o artista arrisca na letra uma espécie de “considerações finais” do trabalho) segue uma linha mais emotiva, como a iniciada em *Solo Piano* (seu trabalho de maior projeção, vindo de 2010, e, quiçá, o mais sensível de sua carreira). Todavia, *Chambers*, graças ao uso do arranjo de um quarteto de cordas em parceria com o piano, ganha um ar mais encorpado, e, como o próprio nome já diz, tenta imaginar a música Chamber Pop romântica dentro do universo Pop atual. [Com cada faixa dedicada a uma pessoa](http://chillygonzales.com/wp-content/uploads/CHAMBERS_introduced_by_CHILLY_GONZALES.pdf) (ou coisa, como o “subconsciente” ou o “piano”) diferente (e, consequentemente, inspirada nelas), seja Bach, Henrique VIII ou o rapper Juicy J, mantém seu jogo de constante desafio: apoia-se num universo novo e exterior às fórmulas harmônicas já resolvidas dentro de si para extrair o que há de sensível dentro de sua persona excêntrica.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte