Resenhas

Luiza Lian – Luiza Lian

Disco sintetiza panorama da produção musical brasileira dos últimos anos e a persona da cantora

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Ano: 2015
Selo: Tratore/Risco
# Faixas: 13
Estilos: MPB, Música Latino-americana, Música Afro-brasileira, Rock Psicodélico
Duração: 49:18
Nota: 4.0
Produção: Gui Jesus Toledo

Apesar de ser o primeiro trabalho de Luiza Lian sob seu próprio nome, a jovem cantora paulistana está bem longe de ser uma novata na música ou mesmo na cena de São Paulo. Com pais músicos (Gê Marques e Fabiana Lian), a moça foi introduzida ao mundo artístico ainda bem cedo, resultando em um período criativo que já se estende por alguns bons anos. Seu primeiro lançamento – trabalhado ao longo de três anos – é uma coleção de canções produzidas em todo esse período, além de recriações de faixas de seu pai (Protetora, Ônibus Lotado, A Luz de Vela e Gula) e de uma amiga (Me Tema, de Barbara Malanvóglia).

Autointitulado, o disco captura o zeitgeist da produção cultural brasileira. De certa forma, ele sintetiza o panorama de grande parte das referências sonoras usadas nos últimos tempos, principalmente no que diz respeito ao “sincretismo musical” que vemos acontecer nas terras tupiniquins. A forma como foi criado, as parcerias, seu tempo de gestação e mesmo a identidade tão forte – assim como as letras tão pessoais – de Luiza, capturam muito da essência e do que significa fazer música em 2015 no Brasil.

Rock Psicodélico, Jazz, Blues e Ritmos Afro-brasileiros e Latino-americanos se colidem, gerando uma unicidade sonora bem fácil de identificar-se – singularidade descrita pela moça como “salada”. De fato, essa maçaroca estilística tem muito a ver com a nossa cultura, com a pluralidade inerente ao misto de várias etnias em nossas terras. O resultado é encantador e surge de forma bem natural, vagando em cada faixa para um ponto do amplo espectro musical que Luiza se permite a criar. E liberdade é a palavra chave aqui. Seja em arranjos ou letras, a cantora se permite experimentar e brincar a vontade com eles.

Falando em arranjos, quem fica a cargo deles é uma “super banda”. Tim Bernardes (guitarra) e Guilherme d’Almeida (baixo) (ambos d’O Terno), Tomás de Souza (teclado) e Charles Tixier (bateria) (ambos de Charlie e os Marretas) e Juliano Abramovay (violão), membro do grupo Noite Torta – todos parceiros do selo Risco -, se juntaram para dar corpo às canções de Luiza, que manteve o grupo nos trilhos e ditou o caminho “mais Iemanjá e menos mellotron”. Ao mesmo tempo que a brasilidade está bem presente, o clima psicodélico também se desenvolve, criando uma troca interessante entre a música tupiniquim e o Rock setentista – como por exemplo na ótima A Luz da Vela.

Mais uma forma de Luiza relacionar a música brasileira com a cultura Afro-brasileira são com suas músicas dedicadas a Oxum (orixá representante da sabedoria e poder feminino): Chororô e Protetora – deixando claro o tal toque “Iemanjá” dos arranjos. Fora isso, a cantora se “expõe” bastante em suas letras, se mostrando através delas, seja seu impeto pelo amor, sexo, viagens, ou introspecções. Como poesias musicadas, essas canções resgatam o passado e presente da cantora suas verdades, alguma delas tão universais que é impossível de não nos conectarmos. Nesse ponto, Escuta Zé se torna quase uma peça central do disco, se tornando uma antítese direta do que a figura da artista representa.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts