Resenhas

O Terno – 66

Disco de estreia do trio paulistano faz uma viagem pelos primórdios do Rock & Roll e, mesmo assim, consegue soar atual

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Ano: 2012
Selo: Independente
# Faixas: 10
Estilos: Rock & Roll, Indie Rock
Duração: 37:30
Nota: 4.0

Existe uma grande ironia em 66. O disco, apesar de soar como retrô fazendo um grande resgate ao Rock sessentista e à estética da época, que pode ser notada nos arranjos e composições, é profundamente contemporâneo no que diz respeito às letras e temáticas atuais. Pode parecer fora de contexto fazer isto em 2012, mas o primeiro álbum dos garotos do O Terno é divido em Lado A e Lado B, assim como os bolachões dos quais eles tiram a maior parte de suas inspirações.

A ironia vem sempre acompanhada do bom humor, o que é bem exposto na faixa que dá nome ao disco. A divertida música fala sobre o sentimento de estar perdido no tempo e sobre a dificuldade de escolher um rumo musical – “Me diz meu Deus o que é que eu vou cantar se até cantar sobre ‘Me diz meu Deus o que é que eu vou cantar?’ já foi cantado por alguém” é a primeira frase que ouvimos ao dar play no álbum e, de certa forma, fala muito sobre a banda e sonoridade que escolheu seguir.

O disco tem muito dos anos 60 e 70, principalmente do Rock mais clássico como The Beatles e Cream. Como influências mais novas, destaca-se principalmente o músico Mauricio Pereira, que lá nos anos 90 fez sucesso com Os Mulheres Negras e que cedeu cinco músicas aos garotos para que eles dessem sua cara a elas. O Lado B do disco é formado somente pelas canções dele e que foram repaginadas pelo trio.

A primeira faixa do Lado A é a hypada 66. Além de ser um hit instantâneo a música consegue definir bastante do som do Terno – os arranjos emprestados de bandas lá dos anos 60 e a aura retrô embalam as letras inteligentes e quase sempre satíricas. Eu Não Preciso de Ninguém apresenta uma balada roqueira com pitadas do Blues Rock, com diversas mudanças no andamento e com uma letra que hora ou outra recorre a assassinatos – o que você perceberá que é frequente em sua temática.

Os temas soturnos e mórbidos continuam na dobradinha Enterrei vivo e Zé, Assassino Compulsivo, ambas com muito humor. A primeira é mais leve e trata de um amor que não deu certo e a fracassada tentativa de esquecê-lo, enquanto a segunda é uma divertida história de “amor” e brutalidade vivida por Zé, que descobre o verdadeiro amor em meio a assassinatos. As letras meio absurdas são acompanhadas por uma instrumentação impecável com uma aura de Eric Clapton.

O Lado B apresenta algumas mudanças: o trio passa a ser um quarteto com a presença de Mauricio Pereira que participa nos vocais, saxofone e na composição das letras das próximas cinco músicas. Quem é Quem inaugura essa segunda parte da obra variando muito dentro de si e com uma letra bem desconexa, quase abstrata. Guiada por uma volta pela capital paulista, Modão de Pinheiros apresenta uma narrativa amorosa ambientada pela cidade e com ritmo do mais clássico Rock.

Com menos de dois minutos, Compromisso se mostra com uma das músicas mais consistentes e uma das mais roqueiras do disco, com muita distorção na guitarra de Martin. Em ritmo de Ska, Tudo por Ti fecha o álbum, com direito a viradas e suingues ao estilo do Reggae para abordar de forma exagerada uma paixão, guiada pelos vocais sinceros de Mauricio e Martin.

Esse é um ótimo álbum de estreia, mostrando de certa forma como a “reciclagem” sonora pode ser interessante. Mesmo que não inteiramente composto pela banda, 66 já diz bastante sobre O Terno e sobre o que nós podemos esperar do trio.

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ARTISTA: O Terno
MARCADORES: Indie Rock, Ouça, Rock

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts