Resenhas

Paul Weller – Saturns Pattern

Novo álbum é clássico do Rock contemporâneo sem abrir mão das referências tradicionais

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Ano: 2015
Selo: Parlophone
# Faixas: 9
Estilos: Rock, Rock Alternativo, British Rock
Duração: 43:34
Nota: 5.0
Produção: Jan Kybert

Falamos bastante sobre a carreira de Mr. Paul Weller nesses últimos dias aqui no Monkeybuzz. Não é pra menos, o sujeito está lançando mais um álbum e não tem o hábito de soltar músicas na praça sem que estas sejam, no mínimo, muito boas. Em muitas vezes, Weller compôs e cantou clássicos do Rock, sabendo se reinventar, retroceder e avançar, tudo nos momentos exatos, restando pouca ou nenhuma controvérsia depois de tanto tempo na estrada. Além do mais, é admirável que ele ainda tenha tanto interesse por compor e tocar, conseguindo manter-se totalmente fiel às suas tradições e nunca abrindo mão de estar sintonizado com a modernidade. Afinal de contas, o sujeito não tem o apelido de “Modfather” à toa. Pois bem, o que Saturns Pattern tem de tão legal assim? Eu vos digo: muita coisa.

O disco é uma declaração de intenções sobre como tocar Rock em sintonia com o passado glorioso do estilo mas sem soar nostálgico, pelo contrário, de braços dados com o que há de mais contemporâneo. Não há hesitação em usar todos os efeitos concebíveis em estúdio, parafernálias eletrônicas e tudo mais para que as canções ofereçam ao ouvinte um panorama de possibilidades para o Rock, coisa muito fina, sofisticada e certamente infalível quando executada ao vivo. Ao contrário dos estilhaços de álbuns bons – mas com falhas – como 22 Dreams, Saturns Pattern é sobre medidas exatas, doses contadas milimetricamente. Tanto apuro resulta em um caldo do qual não se enjoa.

A primeira canção, White Sky, você já ouviu por aí. É pesada, um rockão setentista repaginado, mais ou menos com o mesmo efeito que teria aquele carrão da época devidamente equipado com a tecnologia de hoje. É pesada, psicodélica e traz a voz de Weller soterrada por guitarras e baterias altíssimas. Quando você pensa que o disco vai por este caminho, o do peso repaginado, o Modfather pega um atalho na psicodelia britânica sessentista, pegando emprestado um pouco da verve The Kinks/The Who como arcabouço da faixa título, cheia de órgãos vintage, bateria com efeitos estratosféricos e uma aura de ajuste de contas com algumas de suas próprias influências originais. A terceira canção, Going My Way, é um assombro de balada beatlemaníaca ao piano, com reviravolta de andamento e entrega ao cânon do Pop americano radiofônico dos anos 70, com direito a harmonias vocais que poderiam vir da ramificação cinzenta de The Beach Boys naqueles tempos ou do conglomerado Crosby, Stills, Nash & Young. Weller não faz algo tão singelo e emocionante desde os anos 1980.

Com Long Time se desfaz a placidez da canção anterior em favor de uma levada enguitarrada atualíssima, que poderia ser de gente como The Black Keys ou Jack White, com exuberância instrumental, palminhas rítmicas sintetizadas e clima de festança até o sol raiar. Pick It Up é mais uma das faixas psicodélicas do álbum, com levada elegante na bateria e um certo clima californiano sessentista, no sentido Love/The Doors do termo. I’m Where I Should Be segue na mesma onda, trazendo a lisergia daqueles tempos para os dias de hoje sem um único arranhão. Phoenix é a reinvenção de um tipo muito peculiar de Soul Music setentista, quando o estilo já estava irremediavelmente vinculado à urbanidade e à maluquice dos centros urbanos, mas ainda não era Funk. Curtis Mayfield, um dos heróis confessos de Paul, deve estar sorrindo orgulhoso de seu discípulo. A canção é toda teclados, baixo e alternâncias rítmicas, cheia de possibilidades. In The Car moderniza o Blues que tanto inspirou o Rock inglês nos anos 1960, mas o faz a partir das bandas setentistas como Free ou Humble Pie, mas Weller tem o cuidado de revestir a massa sonora com a abordagem contemporânea, novamente emprestando a sonoridade de The Black Keys. Um piano psicodélico em aquarela e efeitos vocais dão a profundidade necessária. These City Streets, cheia de ruídos urbanos e com seus sensacionais 8 minutos e 26 segundos, é uma exuberante e complexa composição meio Folk, meio Rock, cheia de vocais harmonizados e reflexões sobre as relações amorosas no meio de tanta pressa contemporânea.

Paul Weller mostra nesse álbum que é um craque da música Pop, capaz de cobrar escanteio, cabecear em gol e salvar a meta diante do ataque do time adversário desviando a bola em cima da linha, tudo ao mesmo tempo. Seu Saturns Pattern é múltiplo, superlativo, é covardia com quase 99% da produção musical atual.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.