Resenhas

The Vaccines – English Graffiti

Terceiro disco da banda inglesa é totalmente diferente dos anteriores

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Ano: 2015
Selo: Columbia
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 35:24
Nota: 3.5
Produção: David Fridmann

Lembra das suas aulas de Genética? Dos genes recessivos e dominantes? Do Aa x Aa e das probabilidades de emparelhamento? Pois bem, se fôssemos adaptar a existência de The Vaccines para a Biologia de bandas, diríamos que suas origens são 100% “strokianas”, totalmente comprometidas com a sonoridade que grassou pelo planeta a partir do novo milênio, como a redenção para o Rock, que propunha seu encolhimento em favor de uma simplicidade supostamente redentora. Era uma espécie de resposta ao arremedo de Art Rock que Radiohead propunha no pós-Ok Computer, por sua vez, também sem qualquer inovação ou ganho estético. Hoje, 15 anos depois disso, essa sonoridade roqueira simples e “nova” está esgotada.

Os dois discos anteriores dos ingleses de The Vaccines se inseriam diretamente nessa lógica de músicas rápidas, dançantes, com um pé na New Wave e outro no Pós Punk, cheias de guitarras rítmicas e andamento marcante de bateria. Se o próprio The Strokes percebeu que essa fórmula tinha vida curta em seus dois últimos e melhores álbuns, Angles (2011) e Comedown Machine (2013), por que não seus filhotes? English Graffiti é exatamente o álbum em que uma banda strokiana levanta a cabeça e, ainda que esteja imersa em águas oitentistas, percebe que aqueles dez anos ofereceram muito mais para a música Pop. Dentro deste contexto, é intrigante a escolha de David Fridmann, responsável por trabalhos interessantes com Flaming Lips e MGMT para a pilotagem do estúdio. Fridmann não intervém diretamente na feitura das canções ou em seus arranjos, mas sua presença confere maior foco às composições e sua leitura da pegada simplista da banda é valiosa para que os rapazes dêem o salto de qualidade a que se dispõem.

A primeira canção, Handsome, não entrega a real intenção do álbum. Ela é solar, alegre e cheia de palminhas, enquanto a banda ergue uma barragem sonora feita sob medida para pulações sem fim. A chegada da segunda faixa, Dream Lover é surpreendente. Trata-se de uma balada Hard Rock revisitada, do tipo que bandas setentistas esquecidas (Foreigner, por exemplo) fariam sem dó em algum mês de 1985, com boa rotação em rádio e desempenho estelar nas paradas de sucesso. A impressão de que setores pouco visitados dos 80’s estão ganhando espaço segue com Minimal Affection, típica canção oitentista meio Pop, meio Rock, que surgia em profusão naqueles tempos porgente como The Alan Parsons Project. 20 20 é mais afeita aos dois álbuns anteriores de The Vaccines, mas guarda um frescor de Pop clássico reempacotado que lembra Footloose, de Kenny Loggins.

A grande música deste álbum é, sem dúvida, (All Afternoon) In Love, na qual os rapazes provam que sabem fazer uma bela balada derramada. Há efeitos de teclado e guitarra que lembram grandes momentos do passado, além de um piano que conduz a melodia com elegância e por alamedas beatle, especialmente “mccartneyanas”. Adoráveis batidas sintetizadas e datadíssimas surgem junto com palmas robóticas em Denial, outra canção feita para momentos dançantes ao ar livre. O nível cai um pouco com a chata Want You So Bad, aguada e sem muita direção, mas sobe novamente com Radio Bikini, que surge agradavelmente confusa e rápida, como se fosse uma cruza das versões oitentistas de The Ramones e The Beach Boys. Maybe I Could Hold You é tensa, eletrônica e minimalista a princípio mas com melodia elegante a seguir e vocais exuberantes. Give Me A Sign tem introdução que poderia ser uma sobra de estúdio de Asia, enquanto o fecho do álbum tem um instrumental cheio de efeitos datados e com ar de meditação vespertina em alguma praça europeia, pensando no amor que se foi. A angústia visível nas composições presentes em English Graffiti é seu grande trunfo. Sua presença nas letras e o desejo de evolução musical da banda apresentam uma nova versão de

The Vaccines ao público, cativo ou não, que poderá perceber nítidos sinais de inquietação sonora e busca por identidade mais adequada. Por enquanto, o grupo fez aqui o seu melhor trabalho.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.