Quem é Phillip Long? Se pudéssemos responder essa questão com exatidão, provavelmente não estaríamos falando sobre a mesma pessoa, tamanha a complexidade que sua personalidade nos mostrou nos últimos três anos, período em que lançou oito registros, entre álbuns e EPs. Essa multiplicidade e flexibilidade quanto aos gêneros que produz e as diferentes faces que ele opta por revelar em cada disco se tornou uma marca registrada, fazendo com que cada lançamento guarde uma surpresa e nos encante de diferentes formas. Com Zeitgeist, a surpresa continua e desta vez vemos sua obra tomar um aspecto que reúne tudo o que já foi mostrado em um universo só.
Novamente com seu companheiro Eduardo Kusdra, Phillip sente-se confortável entre as referências que acompanharam seu crescimento como compositor, dentre as quais The Smiths se mostra bastante nítida. As melodias de Softly As A Butterfly, Tired Of Being A Boy e Going With The Wind lembram bastante a interpretação de Morrisey em canções mais antigas de sua banda. Fora isto, o Folk parece permear bastante Zeitgeist, seja em um formato mais comportado,como na belíssima faixa de abertura Daniel, ou com toques percussivos e mais animados, por exemplo em Kind Woman. Não parece muito diferente de outros discos de Phillip, porém, quando analisado, dentro do contexto que seu nome sugere, o trabalho se traduz em uma narrativa interessante.
“Zeitgeist” pode ser traduzido como o espírito de uma determinada época e, quando Phillip nos mostra seu nono trabalho com este título, percebemos rapidamente a época à qual ele faz referência: toda a sua vida. O disco traz uma retomada de sonoridades e pode até parece um pouco previsível, mas ele simboliza tudo que construiu a trajetória do compositor até então. As referências smithianas, o Folk que lembra trabalhos anteriores como Gratitude, as ambientações alegres de Caiçara entre outros elementos típicos da música de Phillip estão presentes com força aqui. É um ótimo trabalho para apresentar a um ouvinte que desconheça sua discografia, pois mostra sua essência de uma forma direta e simples. Sem excessos, apenas Phillip Long.
Com uma obra equilibrada e fincada em suas referências, Phillip não arrisca e fica dentro de sua zona conforto: um campo onde ele tem pleno controle e confiança de semear suas impressões e sentimentos, de uma fora sincera e simples. Novos discos podem mostrar novos caminhos, mas Zeitgeist sempre será um retrato deste Phillip. Ou melhor, do espírito de Phillip.