Resenhas

Esperanza – Z

Novo álbum do grupo paranaense mantém luminosidade Pop

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Ano: 2015
Selo: Sony
# Faixas: 12
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 37:21
Nota: 4.0
Produção: Alexandre Kassin

É sempre bom ver grupos e artistas fiéis às propostas que se dispõem a levar adiante. No caso de Esperanza, essa máxima fica ainda mais importante se levarmos em conta que a banda paranaense empreendeu mudança total, passando de Sabonetes para o nome atual, ao perceber que sua musicalidade havia se transformado com o tempo e que a identidade anterior já não dava conta do que queria fazer. Deixou propostas de trabalho de lado, olhou na direção oposta ao sucesso, confiou em sua base de fãs e investiu nela para viabilizar o segundo álbum, homônimo, que foi realizado através de financiamento coletivo em 2013. Dois anos depois, o trio está mais cristalizado e soa promissor em Z, segundo trabalho como Esperanza, terceiro da carreira.

Quando optou pela mudança do nome, o (agora) trio formado por Artur Roman (guitarra e vocal), Wonder Bettin (guitarra) e João Davi (baixo), abraçou uma sonoridade mais doce, porém nunca menos intensa. Abriu mão de alguma urgência em letras e arranjos em favor de uma cadência mais uniforme e, mais que tudo, feliz e solar, com a impressão de que o ouvinte esteve no estúdio com os rapazes e pode palpitar sobre estrutura das canções, intervenções dos arranjos e na própria produção do álbum, pilotada por Kassin, que repete o disco anterior. É uma espécie de crowfunding de alma, de inspiração, tamanha a felicidade do resultado. É Rock jovem e quicante, com metais que surpreendem o ouvinte e quase o obrigam a sorrir.

Perto de Mim é uma das mais bem feitas canções de abertura de um disco Pop brasileiro nos últimos dez anos. Começa com bateria aerodinâmica, guitarrinhas em chacundum, baixo engordado e a voz de Artur, com interpretação na medida para aquela coisa mencionada acima, de provocar o sorriso em quem deita os ouvidos nas canções. Tudo Pro Ar tem algum débito com as bandas dos anos 00, com levada meio dançante, meio Disco Music feita por quem não tem muita ideia do que é ou significa, mas que faz e se sai bem. A letra otimista fala sobre seguir o coração e outras figuras já gastas, mas nada que comprometa o resultado. Constelação tem levada ao violão com acento Folk discreto e urbano, que deságua em guitarras “strokianas”, mas que surge simpática e romântica, “tem uma constelação no teu olhar”. Uma linha de baixo sinuosa conduz Aos Teus Pés, serpenteante e lembrando alguma coisa que poderia surgir do estoque de ideias de gente como The Rapture.

Sobre O Tempo é lentinha, climática e com dedilhado de guitarras e arranjo épico que lembra alguma coisa de The Killers, oitentista, mas feita hoje mesmo. Vem Pra Ficar é o primeiro single e novamente mostra Esperanza de bem com a vida, arejada, sob o sol da tarde. Metais e órgão fazem intervenções aqui e ali, tornando a canção ainda mais simpática. Batimento é outra delicada faixa com têmpera Folk e participação de cordas discretas aqui e ali, enquanto Até O Fim exibe uma interessante apropriação de Rock sessentista, talvez jovemguardista, com piano marcando o ritmo da bateria e boa performance vocal de Artur. Lembra, de alguma forma, That Thing You Do, aquele docinho sonoro da trilha sonora de The Wonders. Lembra? Conhece? Vá ver assim que terminar de ler. Você Não Vem tem guitarras e metais típicos do Ska, mas não parece com nada do ritmo jamaicano, preferindo manter-se noturna e flertando com a pista de dança. Malas Prontas é prima em terceiro grau de Primavera, de Los Hermanos, igualmente imersa no imaginário do Rock ingênuo do início dos anos 1960, sendo seguida de perto por Não É Hora De Voltar, com levada rapidinha de bateria e herança oitentista. Adeus Não fecha o percurso com mais aceno aos anos 1960, com boas guitarras e mais letra de amor e amizade.

A produção recente das bandas brasileiras mostra profissionalismo e boas intenções. Z parece um disco pronto para ser devorado por um público – existente, espero – ávido por boas canções, bons vocais e apreço pelas guitarras, bem informado em relação ao que acontece lá fora, sem que pareça mais envolvido com isso que com a confecção de boas melodias e letras. Não dá pra entender um álbum desses passar despercebido.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.