Resenhas

Troco Em Bala – Agreste

Metáfora geográfica explica o crescer neste sensível álbum de estreia da banda alagoana

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Ano: 2015
Selo: Independente
# Faixas: 8
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo, Pós-MPB
Duração: 31'
Nota: 4.0
Produção: Filipe Barros Mariz

Se eu tivesse a oportunidade de explicar para algum estudante o que caracteriza a região do Agreste, dispensaria os livros e o apresentaria a este disco. Com as composições de Bruno Berle, Troco Em Bala apresenta seu primeiro disco de estúdio, sucedendo o interessante EP autointitulado e as coisas não poderiam estar melhores para o quarteto. Com uma sonoridade que ora transita pelas raízes fortes do Indie Rock pós-2000, ora se comporta mais entre referências mais brandas de conjuntos como Real Estate, Agreste não poderia ter um título mas aproriado, colocando em sintonia sua música à paisagem e, diferente do que se pode imaginar, este lugar não é seco. É vivo, rico e misterioso.

Em menos de dez faixas, a banda nos mostra com bastante clareza que tem um talento irrefutável para a produção musical. As músicas são bem construídas e, além disso, funcionam de uma forma extremamente fluida e coesa, como se todos os instrumentos estivessem em seu devido lugar mas, ironicamente, tivessem a liberdade para flutuar para qualquer canto do universo destas canções. Homenzinho nos ataca com um Indie Rock bastante adolescente, tanto pela simplicidade dos acordes como pela temática das letras. Já O Céu apresenta uma ambientação mais calma e acústica, dando margem a uma letra mais melancólica, que também possui uma face bucólica. Jasmim apresenta um meio termo entre as duas canções citadas anteriormente, nos colocando em um meio termo de tranquilidade e agitação, e é dessa dualidade que tiramos a essência de Agreste.

O disco apresenta uma série de temáticas sinceras que falam muito da passagem de nossas vidas, principalmente sobre o “crescer” e o quanto isto vem acompanhado de uma série de dúvidas, questionamentos e filosofias próprias. Assim, quando o nome Agreste se aplica a este conjunto de impressões, a metáfora de Troco Em Bala se torna muito mais rica, uma vez que percebemos que nosso amadurecimento de um adolescente para um adulto se concretiza em meio-termos, tal como a paisagem do Agreste, que não é tão seca quanto o Sertão, nem tão arborizada quanto a Zona da Mata. Bruno Berle faz um ótimo trabalho trazendo este retrato tão sensível e o poetizando de uma forma ímpar, e a banda complementa essa tarefa com faixas que traduzem especificamente cada sentimento. É uma proposta completa.

Troco Em Bala acerta em cheio com esta estreia cheia de lirismo e profundidade. É curioso como a banda se aproxima de temas extremamente pertinentes a fases modernas da literatura brasileira, principalmente nas obras de Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Quase como se fosse uma atualização do conceito de que o Homem e seus questionamentos se traduzem na figura do sertanejo – neste caso, da paisagem do Agreste.

Um disco totalmente humano.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique