Resenhas

Valsa Binária – 10

Segundo álbum da banda mineira falha em assumir sua identidade, de maneira geral

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Ano: 2015
Selo: Membrana Música
# Faixas: 10
Estilos: Pop Rock, Indie Rock, MPB
Nota: 2.0

Fica difícil – beira o improvável – conseguir decifrar com precisão quais as intenções por trás de um trabalho. Se alguns esbanjam sinceridade, outros mantém poses meticulosamente fabricadas para chegar em tal lugar. Entre os dois extremos, há um sem-número de bandas que, mesmo com um grande contato com sua obra, permanecem com seus intuitos escondidos. Colocar Valsa Binária sob o microscópio gera esse tipo de dúvida por dois principais motivos: Sua música em si e a maneira com que ela é apresentada em seu segundo álbum, 10.

Você ouve o disco e logo pensa que algumas escolhas, principalmente nas referências de timbres e arranjos Indie/Indie Rock, vieram de uma vontade de fazer um som mais “contemporâneo” (pra não falar “na moda”), o que poderia ser interessante se essas influências não chegassem com alguns bons anos de atraso. Não só isso, a descrição da banda nas redes sociais traz a palavra “experimentalismo”, o que complica ainda mais esse cenário, visto que é delicado chamar assim o uso de elementos que já deram tão certo para outras tantas bandas ao redor do globo.

Ao mesmo tempo, seria insensível não levar em conta o contexto (ou um possível pano de fundo) que levou o quarteto mineiro a pensar e comunicar-se dessa forma. Para quem está muito mergulhado no cenário alternativo, pode ser difícil imaginar o nível de ousadia de – ok, vamos nessa – “experimentar” referências daquilo que foi tido como vanguardista há relativamente pouco tempo se você pertence a uma cena Pop Rock – historicamente, o maior diluidor de estéticas que já conhecemos.

O problema é que, mesmo sob essa ótica, é muito difícil engolir uma música como Receita como abertura de um disco. Uma das maiores bobagens lançadas no ano, ela consegue ofuscar as próximas duas ou três faixas (todas muito superiores em qualidade e bom gosto, como um todo) e desanima o ouvinte, mesmo quando ele já entendeu que há coisas melhores pela frente (Melhor que Sou e Dona de Si são músicas que merecem toda nossa atenção). Seria bom se Receita fosse o único problema, mas algumas outras faixas ostentam a aura de “escolhas certas nos lugares errados” e, mesmo se as intenções forem das melhores, o disco morre na praia.

Se 10 for uma obra totalmente sincera, de quatro músicos que estão investindo seu tempo, recursos e talentos para fazer a arte que expresse quem são como pessoa, o álbum é falho por não conseguir passar essa honestidade. No outro lado da moeda, se o caso for de uma banda que optou por essa ou outra escolha no som para a visibilidade e para uma ou outra porta se abrir, o resultado é igualmente insatisfatório, visto que diversas outras bandas (no Brasil, principalmente) conseguem fazer música de alto teor Pop dialogando fluentemente com tendências, sejam elas bem atuais ou com certo atraso. Cabe à banda decidir o quanto vale a pena ter o nome Valsa Binária em cima desse muro.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.