Resenhas

Spector – Moth Boys

Novo álbum do grupo inglês alia bom instrumental e crítica de costumes

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Ano: 2015
Selo: Fiction Records
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 40:14
Nota: 3.5
Produção: Spector e Dev Hynes

O quarteto londrino Spector tem um elemento sensacional e raríssimo em sua receita musical: o humor. Não entenda como uma tendência pra fazer música engraçadinha, mambembe, pelo contrário. Os sujeitos honram uma tradição nobre de bandas britânicas que são/foram capazes de olhar para as idiossincrasias da Velha Ilha e criticá-las, ridicularizá-las, rir da pompa decadente e cafona de algumas tradições inglesas. The Kinks, Blur, The Divine Comedy e Pulp são exemplos dessa gente inteligente, que olhou para o próprio umbigo e do sujeito a seu lado no metrô e ousou rir. O envelope sonoro dessas chalaças quase sempre pendeu para uma visão sombria e canastrona do Pop, algo dramático, operístico, solene, mas bem feito e interessante.

O primeiro álbum do quarteto, Enjoy It While It Lasts, lançado em 2012, trazia essas caracterítiscas mas apostava em canções com o padrão The Killers de grandiosidade, algo que funcionou bem e credenciou o grupo para vôos mais altos e pessoais. Com este Moth Boys, podemos ver que eles estão na direção certa e se aprimorando. Saem os galopes no deserto de Brandon Flowers e sua turma e entra um aveludado mix de guitarras discretas e teclados atmosférico-canastrões, com um carinho implícito pelos timbres Pós-Punk do início dos anos 1980. Sim, a visão de Spector é oitentista, como a maioria esmagadora de seus contemporâneos, mas sob o filtro dos anos 2010, algo que poderia evoluir ainda mais. Mesmo assim, já está bom, há uma coleção de pequenos achados ao longo do álbum, não sendo possível notar uma única canção ruim.

Logo de cara, na abertura do disco, temos uma candidata potencial às listas de grandes canções de 2015: All The Sad Young Men vem com levada glacial de teclados beirando o Technopop e letra criticando a alta incidência de gente blasé no mundo, cutucando esse coitadismo comportamental ocidental que tanto grassa por aqui e por ali. Stay High vem em seguida e mantém o padrão altíssimo, com linha de baixo simpática, pianos épicos pontuando a melodia e a voz de Fred McPherson, no ponto entre o drama e o tédio, emula o registro de um jovem Bryan Ferry, fazendo bonito. Believe, logo após, também tem teclados gelados e palmas sintetizadas marcando o ritmo, com muita cara de anos 1980, mas algo na habilidade de McPherson em compor canções com bons refrãos e ganchos melódicos atenua a sensação de pouca originalidade.

Don’t Make Me Try é mais voltada para as pistas de dança conscientes e angustiadas, numa onda “estou dançando mas me preocupo com minha condição existencial no mundo moderno”. Melhor ficar com a canastrice à la Roxy Music fase 1983 de Cocktail Party/Heads Interlude, fina, elegante, com summer jacket e drinks coloridos na mão. Bad Boyfriend é uma autocrítica mas com a certeza de que o protagonista é genial na maior parte do tempo, algo como se ele abrisse uma exceção com a periodicidade do Cometa de Halley para a namorada, que não tem a menor paciência pra aguentar o discurso. Decade Of Decay é rapidinha, curtinha e dançantezinha, com mais clima das danceterias dos anos 1980, com mais interferência de teclados que parecem tocados diretamente das planícies da Lapônia. Kyoto Garden, como era de se esperar, tem climas e inflexões orientais de araque, mas tudo é intencionalmente superficial e climático. West End é cadenciada e dispara contra o pessoal descolete da região londrina que dá nome à canção, enquanto Using lembra mais Bryan Ferry solo, circa 1985. A última canção, Lately It’s You é uma é cheia de efeitos e timbres oitentistas, com final épico e galopante, fechando com coerência o percurso sonoro idealizado por Spector.

O quarteto é promissor, ainda está encontrando sua sonoridade e o ponto exato de sua crítica, mas já há ganhos em relação ao primeiro trabalho e tudo indica que está a caminho de mais e melhores registros no futuro próximo. Ficamos na torcida.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.