Resenhas

milo – so the flies don’t come

Melhor lançamento do rapper é alternativa a grandes discos de Hip Hop do ano

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Ano: 2015
Selo: Ruby Yatch
# Faixas: 10
Estilos: Alternative Hip Hop, Rap
Duração: 32:00
Nota: 4.0
Produção: Kenny Segal

milo é certamente um dos artistas de Hip Hop norte-americano para ser acompanhado de perto. Desde seu primeiro lançamento, Things That Happen at Day/Things That Happen at Night, até o primeiro disco de longa duração, a toothpaste suburb, o rapper sempre surpreende. Seu estilo de rimar não pode ser considerado inovador, é apenas diferente, principalmente para quem está acostumado a ouvir o estilo. Ao mesmo tempo, justamente por suas rimas soarem como monólogos/poesias líricas, ouvintes que torcem o nariz para o gênero tendem a gostar logo de cara da sonoridade encontrada na sua curta discografia.

Por vezes cru e seco, como aparece em Napping Under the Echo Tree, o músico passa sempre a imagem de alguém conversando diretamente com você. A passagem da palavra é muito mais do que simplesmente encontrar a rima correta ou a aliteração bonita, por isso, milo sempre está constantemente te olhando nos olhos e contando histórias aos seus ouvidos. so the flies don’t come, talvez seja seu trabalho mais completo, ainda que não se mostre robusto – a intenção aqui é estar em evolução constante.

O novo disco acerta nos aspectos em que sua obra anterior errava, como os excessos de canções e batidas poucos interessantes na maioria dos casos. Esse castelo de areia se desfaz logo na segunda canção, quando milo e Hemlock Ernst constroem Souvenir, uma das melhores faixas de sua carreira e que justifica o hype ao seu redor dentro do Hip Hop Alternativo. A música é um conto sobre solidão, curtidas banais em aplicativos de Internet e questões sobre literatura diversa – assuntos comuns nas letras do rapper – , aparecem aqui novamente e abrem alas para uma das composições mais criativas que pude ouvir em 2015.

Essa pegada segue em outros momentos. An Ecyclopedia é uma jorrada de referências nerds/artísticas com um refrão irônico sobre racismo (“people of color coloring”), enquanto True Nen traz o companheiro Open Mike Eagle aos microfones para mostrar porque o coletivo no qual ambos estão inseridos, Hellfyre Club, tem alguns dos atos mais interessantes de Hip Hop na atualidade. É fácil entender como milo se torna tão acessível, mesmo que em muito casos soe tão intelectual – a comunição funciona em todos as suas faixas e foge dos lugares comuns do gênero, como sexo, dinheiro ou poder. Ao final, ele parece ser mais um depressivo, porém observativo navegador da rede de computadores: ainda sem entender verdadeiramente o que o excesso de informação pode se tornar e capaz de verbalizar tudo o que sente, como um perfil de Twitter público

As batidas aqui são um show à parte, fugindo de loop cíclicos simples e por vezes até sonoramente rudes, e trazem uma pegada mais pesada de nomes como Earl Sweatshirt e Vince Staples. Yomilo tem um sample de guitarra solto em delay que vai se misturando a cada nova entrada da bateria (os versos viajantes também ajudam a tornar a canção memorável), enquanto Re:Animist é uma faixa perdida na discografia do coletivo OFWGKTA. Em um ano com tantos bons lançamentos de Hip Hop, so the flies don’t come chega para somar a nomes que ganharam destaque sem soar como nada que ouvimos no período. A verdade é que milo está aqui para formar um novo público no estilo, o que é excelente para se quebrar paradigmas e torna-lo acessível aqueles que nunca pensarem em ouvir um disco de Rap na vida.

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BOM PARA QUEM OUVE: Open Mike Eagle, Jeremiah Jae, Serengeti
ARTISTA: Milo

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.