Quando Jair Naves lançou seu esperado segundo disco, Trovões A Me Atingir, duas coisas acabaram surpreendendo os seus fãs. A primeira, e mais direta, residia na partida de sua carreira rumo à grandiosidade e sisudez cerebral em uma obra bonita, crescente e menos colérica que E Você Se Sente…. Já a segunda surpresa residiu em uma faixa-bônus, presente somente em CD, que era encontrada como um brinde repentino.
Atirado Ao Mar é um EP que reúne, além da faixa-título antes escondida, outras sobras marcantes de um período extremamente frutífero na carreira do músico. A canção, por si só, já justificaria o lançamento do compilado, no entanto a pequena obra acaba-se revelando mais um relato interessante e doloroso de Jair. É curioso pensar como tão pouco tempo, apenas quinze minutos, pode conter tamanha melancolia e reflexões carregadas sobre vida. Passamos pela dor – elemento íntrinseco à sua obra artiística como um todo (incluindo com a banda Ludovic)- , a velhice, o anseio pelo amor e a esperança.
A levada largada e pseudo-alegre de Gélido, Invernal contrasta com seu contéudo desesperador em uma interpretação grave que nos joga mais dúvidas que certezas: “Quanta dor alguém pode sentir antes de desabar entorpecido pela própria dor? E nunca mais sentir dor? “. Já A Recusa, A Renúncia é possivelmente uma de suas músicas mais bonitas – uma eterna batalha e definitiva constatação de que ninguém é imune ao envelhecimento. Do lado oposto, Atirado Ao Mar é a música mais dançante e obstinada de Naves – o encontro melódico entre o autor e o esperado, mas reticente amor. A presença da música em concertos anteriores ao próprio lançamento de Trovões mostra a importância da composição para o músico.
Por fim, depois de se debruçar sobre desencontros amorosos, a dor e o inevitável tempo, o músico termina seu EP tentando encontrar soluções para sua melancolia. Converta em Algo Belo a Minha Dor é a sua prece e a certeza que outros caminhos, como a fuga, não o levam a lugar algum. Mesmo curto, Atirado Ao Mar acaba funcionando como o grito entalado na garganta de Jair Naves e a sua imediatez sonora nos mostra o poder desse sincero recorte de sua carreira.