Resenhas

Hó Mon Tchain – Assim que Nóis Trabalha

Segundo disco do coletivo paulistano serve como crônica da vida e carreira de seus integrantes

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Ano: 2016
Selo: Independente
# Faixas: 14
Estilos: Rap, Hip Hop
Nota: 3.5
Produção: Mud

Inspirado nos grandes coletivos norte-americanos, como o lendário Wu-Tang Clan, nasceu em 2009 na Zona Leste de São Paulo o Hó Mon Tchain. Formado pelos MCs Amiltex, Diham, Falcon Mc, Mud, JG‐Mano e Plano B, o grupo lançou neste começo de ano seu segundo trabalho, o álbum Assim que Nóis Trabalha, uma boa fotografia da cena do Hip Hop brasileira e, mais que isso, do momento que o sexteto vive em sua carreira.

Longe da ostentação do Rap gringo ou mesmo de um impulso quase revolucionário que toma conta das rimas dos artistas estadunidenses nos últimos meses, o coletivo paulistano experimenta versar sobre verdades mais mundanas e mais próximas de nós: a luta pela grana no fim do mês, o chamego em casal, as lições que a vida nos ensina, o “rolê” de skate. Essa realidade rimada pelo grupo parece ter a humildade como fio condutor da narrativa de grande parte das músicas (ou, em alguns casos, a falta dela). Tecla batida em diversos momentos do álbum, o tema ganha rimas bem endereçadas em Na Humilde.

Até mesmo o processo e os percalços de se fazer música viram tema para uma das faixas da obra, sendo a abertura A.Q.N.T. um disclaimer do que trouxe o grupo até aqui e até mesmo quais são suas pretensões através das próximas treze canções. Nesse mesmo espírito, Fim de Expediente fecha a obra com um misto de agradecimento pra quem chegou até ali e um desabafo de dever cumprido. Nesse meio, as seis vozes dos rappers unem-se para passar uma só mensagem, mas não estão sozinhas. Há também a participação de nomes como D‐Cazz (Ostentação Interior e Essa Noite), Jimmy Luv (A.Q.N.T.) e Yunei Rosa (Fim do Expediente) nas rimas e na prosa, na construção de uma história conjunta conduzida por esse talentoso grupo de jovens.

Se as letras vão diretamente ao ponto, as batidas, criadas pelo rapper e beatmaker Mud, não ficam atrás. Longe das tendências revivalistas dos anos 90 ou mesmo dos crossovers com Jazz ou Rock (tão comuns nas produções mais atuais), o grupo se apropria das linguagens mais clássicas dentro do Hip Hop, ainda que brinque com uma ou outra moda no estilo, como o quase Trap de Malandrão e Amo Os Que Me Odeiam ou a pegada mais melódica de Sessão da Tarde. Até mesmo a música árabe (em Gueto Árabe) vira mote para uma das produções do coletivo. Sem se restringir nesse ou naquele subgênero do Rap, o coletivo sabe trazer um bastante equilíbrio.

Ainda falando sobre a produção, há alguns samples no mínimo curiosos, como da islandesa Björk em Amo os que me Odeiam ou ainda de Mayer Hawthorne em Largados na Liberdade. São toques assim que deixam ainda mais interessante a audição que se dá forma bem fácil, podendo agradar até mesmo aqueles não tão familiarizados com o Rap ou que gostam de versões mais brandas do estilo, mas que ainda assim procuram alguma profundidade ou combatividade. Assim que Nóis Trabalha se prova com um bom disco da safra 2016 do Hip Hop brasileiro e já deixa o ouvinte curioso para um próximo passo do grupo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Projota, Emicida, Odd Future
MARCADORES: Hip Hop, Rap

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts