Resenhas

Savages – Adore Life

Mais sombria e menos rebelde, banda ainda é uma das mais promissoras do Post-Rock

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Ano: 2016
Selo: Matador Records
# Faixas: 10
Estilos: Post-Rock, Post-Punk
Duração: 39
Nota: 4.0
Produção: Johnny Hostile

Shut Up, a faixa de abertura do primeiro álbum da banda britânica Savages (Silence Yourself, 2013) soava – como muito bem colocado por Nik Silva em sua resenha – emblemática. O contrabaixo baixo seco e volumoso, a guitarra empolgante oscilando de meio em meio tom e a bateria assertiva e acelerada, somados à atitude raivosa da vocalista Jehnny Beth, eram os ingredientes de uma das fórmulas mais viscerais do Rock daquele ano e, sem dúvida, uma das apostas mais promissoras do Punk em muito tempo.

Por isso, altas expectativas para o lançamento de Adore Life não são nada menos do que naturais, embora resida nesse sentimento uma armadilha: queremos mais do mesmo, queremos, de alguma forma, a sensação de ineditismo que sua estreia trazia ou queremos algo de novo?

Savages, em Adore Life, não continua no mesmo lugar. Sua sonoridade parece naturalmente amadurecida, sem forçar a dinâmica do grupo para algo inédito, ao mesmo tempo em que não admite patinar na auto-paródia. Por isso, embora sua essência ainda seja a mesma, não temos tanto o espírito Post-Punk de outrora. A agressividade politicamente engajada de antes, aqui, dá lugar à ambiência sombria das guitarras do Post-Rock.

De fato, Jehnny Beth ainda tem raiva, mas não mais a raiva rebelde de seu passado, inconformada com o barulho incessante da sociedade contemporânea e sim uma angústia motivada pela incongruência de suas emoções – seu amor e sua sexualidade – diante das forças motrizes de um mundo patriarcal (machista, homofóbico, e demais derivações inclusas).

O álbum, sem dúvida, não se esgota nestes temas, mas trata, essencialmente, do amor – em todos os seus aspectos -, dos conflitos causados por esse sentimento e, é claro, da esperança no mesmo (vide o título do trabalho). A banda, que ainda adota uma atitude muito grave, não parece, todavia, levar-se tão à sério quanto antes. Aqui, aquele sisudismo de outrora parece mais livre. Assim, temos espaço para ótimas melodias vocais: ouça The Answer, a excelente Mechanics, e a (quase) faixa-título Adore (eu ouvi um refrão ou foi impressão minha?) como provas deste novo aspecto.

Soando mais tenebrosa e menos rebelde, Savages parece ter amadurecido. Ainda mantendo-se firme e apontando o dedo raivoso para a sociedade contemporânea, todavia, agora experimentando o amor, Adore Life configura um pilar sólido para o Post-Rock deste ano.

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BOM PARA QUEM OUVE: Algiers, Swans, Chelsea Wolfe
ARTISTA: Savages
MARCADORES: Ouça, Post-Punk, Post-Rock

Autor:

é músico e escreve sobre arte