Resenhas

Matheus Brant – Assume Que Gosta

Segundo disco do compositor mineiro é prato cheio para quem tem medo da MPB

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Ano: 2016
Selo: Independente
# Faixas: 15
Estilos: MPB, Indie Rock
Duração: 53:00
Nota: 4.0
Produção: Fábio Pinczowski, Mauro Motok e Matheus Brant

A capa de Assume que Gosta, segundo trabalho do cantor e compositor mineiro Matheus Brant, é extremamente conclusiva após a sua primeira audição. Purpurinado, colorido e carnavelesco, o mineiro nos transveste através de influências assumidamente festeiras e tipicamente regionais de diversas partes do Brasil. São releituras e redescobertas de cantos característicos do nosso país ganhando uma roupagem no Indie Rock e na nova face da MPB – música essencialmente popular que sabe dialogar de forma simples e eficiente com um grande público.

O pluralismo de influências não deve ser chocante para quem conhece o trabalho do belorizontino – A Semana, lançado em 2011, mostrava um músico multifocado que passava por Djavan, Novos Baianos e até Seu Jorge. No entanto, enquanto seu trabalho de estreia tem faixas muito bem lapidadas e de fácil gosto popular, ele também passa a imagem de minúcia e beleza que talvez nos faça duvidar de sua originalidade por conta de suas referências quase nuas. Matheus agora nos joga contra a parede e nos obriga a cantar e dançar sem muitas preocupações ou dúvidas pois seu lugar está agora em uma festa sem fim.

A sua intenção, do começo ao fim, é oferecer um remédio ao preconceito que estilos regionais e tradicionais sofrem justamente por seu caráter popular. Ele quer te fazer assumir em A Levada do Arrocha que não tem problemas em gostar do estilo (“Você fala que não gosta/ da levada do Arrocha/ mas quando toca nem nota seu quadril querendo ir”), de uma mistura de Samba e Bossa Nova em #Magrela ou mesmo de música brega na malemolente e deliciosa Do Prazer, com Luê. Em todos os casos, se engana quem pensa que o músico está apenas ofertando simples releituras do que ouvimos por ai – camadas de sintetizadores, uma presença marcante de linhas melódicas e harmônicas de guitarra e uma bateria inclinada à dança sob diferentes óticas e formas fazem desse disco um prato cheio para a chamada Nova MPB.

O amadurecimento é claro nesse trabalho justamente porque tais elementos musicais se fazem presentes em quase todas as faixas e são acompanhados por letras ricas e composições que levam o ouvinte à inércia do movimento dos quadris. Logo, as transições não se mostram banais e fazem com que faixas roqueiras e gingadas (como Hoje o Dia É Seu) possam ser acompanhadas pelo acordeão sertanejo de Balada, ou pela auto-explicativa Pagode e, mesmo assim, encontrarem um sentido. É novamente a purpurina aparecendo aí, grudada no couro do cabelo e no canto do olho, mesmo após o carnaval e a vida seguir em frente. E o momento que une tudo isso não poderia ser outro senão na linda marchinha Carnaval canção de irrestível simplicidade e vício imediato. É inevitável não pensar no êxtase que tal composição ganharia com tantos foliões a cantá-la.

Assume Que Gosta é um disco corajoso que procura olhar para diferentes aspectos da música popular brasileira e transformá-los em algo contemporâneo e ainda mais acessível, principalmente para quem torce o nariz quando ouve falar de gêneros como Arrocha, Lambada, Samba e Pagode, entre outros. Letras e interpretações sensuais, sinceras e às vezes hedonistas bailam em uma camada de sintetizadores em toda essa mistura sem preconceitos que objetiva, no fim, fazer o ouvinte chegar na inerente afirmação: “até que é gostoso e bom isso aí”. Como diz a grooveada faixa título: “Às vezes me bate a saudade/de a gente ouvindo aquele axé antigo/é bom/lembrar de você” – pode-se ouvir o popular e, ainda assim, gostar de outras coisas e está tudo bem. É nesse aspecto que Matheus Brant nos conquista e nos faz rever a purpurina e a tinta na cara de carnavais presentes e passados.

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BOM PARA QUEM OUVE: Liniker, Felipe Cordeiro, Rafael Castro
ARTISTA: Matheus Brant
MARCADORES: Indie Rock, MPB, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.