Resenhas

Elton John – Wonderful Crazy Night

Novo álbum do artista esbanja animação e melodias marcantes

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Ano: 2016
Selo: Universal
# Faixas: 12
Estilos: Rock, R&B, Pop
Duração: 42:15
Nota: 4.0
Produção: T-Bone Burnett

Sempre acharei admirável que senhores e senhoras com certa idade se sintam produtivos e dispostos a fazer o que sempre fizerem em suas vidas. É clichê falar do quão prazerosa pode ser a velhice hoje em dia, que os sessenta são os novos quarenta e demais abobrinhas marqueteiras, porém, nunca saberemos ao certo como é isso até que cheguemos lá. Vejam o caso de Sir Elton John, por exemplo: 68 anos de idade, lançando seu 32º álbum de material inédito, numa carreira que já dura 48 anos e feliz da vida, sacudindo a pança e comandando a massa. Não deve ser fácil, sobretudo no caso dele, que já viveu altos atmosféricos e baixos abissais em sua trajetória, temperado por problemas advindo do uso de drogas, além de conflitos internos para assumir sua sexualidade, além de um sem número de situações em que sua figura, originalmente alegre e simpática, tornou-se amarga e estranha. Felizmente Elton vem numa sequência de álbuns interessantes e acima da média há, pelo menos, 15 anos, e este novo trabalho comprova sua boa forma.

A capa toda colorida de Wonderful Crazy Night, com Elton sorridente, já entrega que ele está numa boa. Deixou a melancolia de seu álbum anterior, o belo The Diving Board, pra lá e resolveu celebrar. Para isso, conta com a presença de sua veteraníssima banda e com o produtor T-Bone Burnett, marcando a terceira colaboração seguida da dupla. Aqui ele se dispõe a encarnar suas personas mais usuais: o excelente pianista de Rock/R&B e o carismático vocalista veterano, com inteligência suficiente para administrar os recursos existentes em seu registro, já cansado pelo tempo e pelo uso. Se usarmos algum momento de sua carreira como parâmetro, iremos direto ao Elton com jaquetas extravagantes e óculos nonsense do início dos anos 1970, pilotando seu piano de cauda com boa dose – intencional – de glamour kitsch.

A função de Burnett aqui é de não deixar o excesso tomar conta do produto final, mantendo uma elegante disciplina no ar. O resultado é uma elegante e sincera vertente do R&B que Elton domina tão bem, entre a dança e a balada, com verdade e carisma. Exemplos não faltam por aqui: In The Name Of You e Claw Hammer, têm introdução cinematográfica com cara de andança pelas regiões barra pesada de cidades como Filadélfia e Nova York. A faixa-título exibe pianos onipresentes e soa como uma declaração de intenções para o que está por vir ao longo do álbum. Outra marca registrada também está presente por aqui: as baladas. Elton é mestre em sua confecção desde sempre e não parece menos inspirado por aqui. É bela Blue Wonderful, com elegante arranjo mais clássico, porém sem exageros. I’ve Got 2 Wings também transita com charme numa onda meio Folk, com acordeons e ambiência menos pomposa. A Good Heart é exemplo clássico de balada eltonjohniana, solene, reverente, pianística e com melodia linda.

Ainda que Elton tenha influenciado bastante artistas ao longo de sua trajetória, entre eles, gente como The Killers e Mika, por exemplo, ele não abre mão de seu formato mais tradicional de canção, não apelando para “releituras techno” ou “formatação rocker”, signos fugidios da modernidade desde sempre. Pelo contrário, ao afirmar seu modelão de canção e performance, Elton John se mantém fiel. Sua alegria é palpavel na bandeirosa Guilty Pleasure , sua doçura é total em Tambourine e o rockão England And America, que encerra o percurso musical do álbum, é digno de suas melhores criações de sua carreira. Sacolejante, pertinente e cheio de gás, esta é a versão 2016 de Sir Elton. A gente agradece.

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BOM PARA QUEM OUVE: Mika, The Killers, Paul McCartney
ARTISTA: Elton John
MARCADORES: Classic Pop, R&B, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.