Em 2005, Rodrigo Amarante cantou com seu Los Hermanos em 4: “Eu preciso andar/Um caminho só/Vou buscar alguém/Que eu nem sei quem sou”. Onze anos depois, esse conceito ecoa na obra de estreia do grupo brasiliense Zéfiro, o muito agradável EP Andes. Nele, a cordilheira entra como metáfora para um território difícil de ser explorado, ao mesmo tempo que – assim como na Primeiro Andar de Amarante – carrega a ambiguidade do verbo em seu título.
São figuras de linguagem que dão conta do desafio de virar adulto (um processo que talvez não termine nunca, apenas ganhe mais fases) em compasso à busca da sua individualidade. “Eu dei os meus passos, mas só fui correr com os seus”, revela Outra Metade para deixar o tema ainda mais claro – não basta seguir em frente, há de encontrar o próprio caminho.
Para dar conta dessa mensagem, o som vem também com uma cara de quem tenta encontrar sua trajetória dentro de uma própria personalidade, sem medo de rótulos como “Indie” e “Rock”, mas deixando claro naturalmente que essas palavras são genéricas demais para descrever um som assim. Dentro disso, é inegável o quanto Zéfiro está alinhado ao contemporâneo feito no Brasil (pós-Clube da Esquina, pós-Los Hermanos) e em uma dimensão mais global, com um espírito livre que lembra momentos mais roqueiros de Alt-J e, mais recentemente, Kins.
As quatro faixas de Andes terminam rápido demais, com fôlego de sobra para mais música da banda. Resta-nos esperar para descobrir aonde o caminho levará o grupo. Seus primeiros passos, o que é o mais importante, estão muito mais que bem dados.
