Resenhas

Céu – Tropix

Entre faixas carismáticas e beleza ímpar, cantora revela seu melhor trabalho até hoje

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Ano: 2016
Selo: slap
# Faixas: 12
Estilos: MPB, Pós-MPB
Duração: 48'
Nota: 5.0
Produção: Pupillo e Hervé Salters

Quando você entende o valor que Céu tem para a música brasileira de hoje, fica difícil não cair em uma espécie de lugar comum de já receber qualquer lançamento seu com bons olhos. No exercício de desvincilhar-se de qualquer noção pré-concebida ao ouvir Tropix, há de se dizer que o álbum é de uma preciosidade ímpar e vem para reforçar cada uma de suas melhores qualidades.

Já faz um tempo que Céu parece nos lembrar que toda novidade em nossa música é feita de nostalgia. Mais do que em outras culturas ocidentais, o som dito popular feito no Brasil há meio século cumpre seu papel de ser um ponto na linha do tempo da cultura, como se cada destaque é visto como tal por mostrar naturalmente sua inserção no contexto. Para explicar a grosso modo, se os Tropicalistas ensinaram que sua produção era o embate do Rock importado com a Semana de Arte de 22, se deu bem quem também soube explicar a relação que o som presente tem com o passado.

Céu é filha da cultura das FMs, das canções de amor na madrugada, do encanto pela beleza da cafonice do falar de amor e sofrer por ele. Seu trabalho segue os caminhos do Pop no país e traz o fetiche da praia em referências ao Reggae embalado por um clima urbano de luzes neon e figurino de brechó. Melhor ainda, sua impecável discografia faz isso de forma dinâmica, com uma identidade bem definida em cada uma das obras, sem perder a continuidade de sua natureza e- principalmente – a nouveauté em seu som.

Tropix traz uma ambientação mais noturna e uma configuração de poucos instrumentos nas músicas (alguns ousarão chamá-las de “minimalistas”), com a voz da cantora sempre em um primeiro plano de respeito para seu timbre rouco reverberado combinar com as guitarras distorcidas, batidas e elementos eletrônicos que dão forma ao álbum.

Isso gera cantigas contemporâneas de grande carisma (como Minhas Bics e Rapsódia Brasilis, por exemplo), hits certeiros (Chico Buarque Song, cover da banda paulistana Fellini), baladas grandiosas (Sangria e Camadas) e momentos que sintetizam muito bem o meio tropical, meio noturno do disco (Varanda Suspensa e Amor Pixelado). Há ainda Tulipa Ruiz usando sua voz como instrumento em Pot-Pourri: Etílica/Interlúdio e o sucesso (merecido) de Perfume do Invisível.

Com uma produção certeira de Pupillo (Nação Zumbi) e Hervé Salters (General Eletriks), o disco é uma grande obra mesmo aos ouvidos de quem chegar agora sem conhecer todo seu contexto. E quem acompanha a artista há muito tempo é brindado com a oportunidade de reviver o momento em que se apaixonou por sua voz pela primeira vez, algo que se repete a cada faixa pelas primeiras cinco ou seis vezes que ouvimos o disco.

Hipnoticamente belo e naturalmente dançante, Tropix é a grande obra que todo artista quer fazer e todo fã de música anseia em ouvir. Desista de procurar defeitos e aproveite a vista das imagens nostálgicas projetadas na mente ao escutar o melhor álbum que Céu já lançou – isso é, até sair um próximo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Qinho, Tulipa Ruiz, Mahmundi
ARTISTA: Céu
MARCADORES: MPB, Ouça, Pós-MPB

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.