Resenhas

Barbarie – Barbarie

Som minimalista e poético encontra cenário propício para se desenvolver

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Ano: 2016
Selo: Mono.Tune Records
# Faixas: 10
Estilos: MPB, Indie Rock
Duração: 39:00
Nota: 3.0
Produção: Barbarie

A floresta que abraça a capa do bonito trabalho de estreia de Barbarie é o convite necessário ao desbravamento de nós mesmos. Quase acústico, no sentido de amplitude sonora, o disco poderia ser uma roda de conversas se não fosse encarado de forma musical. Mistura modos tipicamente brasileiros a sonoridades Indie e convence nos primeiros instantes da faixa-título: “façam templos nos teatros; queimem livros como lenha; usem telas como pratos; pintem os muros de preto” são alguns dos imperativos versos ouvidos que sinalizam uma feroz e ácida crítica a mudanças horizontais vistas na política atual brasileira.

O projeto feito pelo trio Rô Fonseca, Edu Marin e Bareta encara a palavra com outros olhares – é o ator principal em canções que soam crônicas da cidade grande e de seus habitantes. Existe melancolica exarcebada em Alegria e Água Preta – dois dos melhores momentos de Barbarie- , existe esperança em Três Meninas e folclore em Chico e João. Em todos, a levada letárgica, lenta e cíclica é o tom principal, sendo sempre bem acompanhada de instrumentais minimalistas e extremamente bem pensados.

Longe de se prender a uma forma, o projeto também sabe levantar o humor quando se encontra com temas mais próximos de grandes nomes, como Caetano Veloso. Menta, por exemplo, é uma ótima e crua inspiração que poderia estar em um disco atual do famoso baiano – seja pela musicalidade ou pelas letras poéticas, bem versadas e seu ritmo dançante. No entanto, é nos instantes em que Barbarie tenta seguir a proposta majoritária de sua estreia que os olhos lacrimejam e o seu valor é encontrado: Tarde e Distraído existem para audições solitárias, enquanto se espera o coletivo após um dia nada fácil. É a sonhada e inesperada paz em tempos atuais – o encontro em uma imensidão de ideias.

Se interpretada literalmente, a barbárie é o retrocesso; uma condição contrária ao progresso, avanço e desenvolvimento, ou seja, a chamada selvageria. Ao ouvir o disco de estreia do grupo paulista podemos entender, mesmo que sutilmente, o conceito por trás de seu nome e a sua conexão sonora. A música criada não é selvagem, é crua e natural como o folclore brasileiro ensinado desde pequeno. É serena como as antigas matas atlânticas – tão incomuns no Sudeste atual e outrora abundantes – e, ao mesmo tempo, antropocêntrica ao utilizar-se de contos e histórias tão humanas que chegam a assustar. É a paz antes da bestialidade, a calma antes da briga e o diálogo necessário em momentos caóticos. Barbarie não chega a inovar musicalmente e tampouco regredir, no entanto, convence através das palavras como o esperado bom papo em uma tarde no botequim.

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BOM PARA QUEM OUVE: Passo Torto, Baleia, Caetano Veloso
ARTISTA: Barbarie
MARCADORES: Indie Rock, MPB

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.