Uma das características mais importantes na contextualização do trabalho de Aaron James, produtor responsável por SBTRKT, é que este não concorda plenamente com a associação de seu nome ao projeto colaborativo. As intenções do artista com tal postura são nobres. O anonimato – vale lembrar que o músico, assim como alguns outros representantes da música eletrônica, se apresenta mascarado – serve, aqui, para que a música “fale por si mesma”.
SAVE YOURSELF, trabalho lançado de surpresa, e o nono dentro da linhagem de experimentações do projeto, contém em si as mesmas implicações conceituais (e, por vezes, contraditórias) que SBTRKT traz, como vimos, em seu próprio DNA. Em primeiro lugar, embora a música do produtor consiga, de fato, falar por si só, esta não dispensa materiais adjacentes ao trabalho. Um site foi lançado, contendo, além de links para o streaming do álbum, um curta animado, declarações do artista, textos a respeito das faixas individuais e, é claro, merchandising promocional.
SAVE YOURSELF, de acordo com SBTRKT, não é um álbum, é um projeto mais imediato, com mais frescor, e sem o procedimento engessado de lançamento oficial homologado por uma gravadora. É algo mais experimental, focado, de acordo com o mesmo, no “estado atual do mundo” (entenda-se um desamparo diante do racismo, da xenofobia, da irresponsabilidade a respeito de questões ambientais e políticas). Na prática, no entanto, não há muita diferença com outros trabalhos do produtor, sendo que, musicalmente, graças a seu Post-Dubstep de essência R&B, o projeto nunca soou exatamente otimista. Tampouco vemos diferença no campo conceitual, tendo em vista que além de seus dois álbuns completos (SBTRKT e Wonder Where We Land), SBTRKT já lançou seis EPs (três deles, em ritmo acelerado, em apenas um ano).
De qualquer modo, é fácil de entender a singularidade pretendida por SBTRKT em SAVE YOURSELF, lançado sem nenhum alarde, como um presente para os fãs, quase como uma curiosidade do que o produtor “anda fazendo ultimamente”. Mesmo discreto, o álbum tem potência para se destacar na discografia do músico, soando muito bem para os ouvidos daqueles que também não são seu público mais cativo. “A dark optimism, for one that seems ever far reaching” diz o artista na apresentação do trabalho. Uma bela descrição, que traduz o espectro de suas faixas, mas que não acrescenta nada, necessariamente, a elas. Afinal, a essência de SAVE YOURSELF, seja na prática, seja na norma, de fato, não necessita de acessórios.
