Resenhas

Tim Hecker – Love Streams

Novo álbum aponta para um ambiente desconhecido para o produtor

Loading

Ano: 2016
Selo: 4AD
# Faixas: 11
Estilos: Eletrônico Experimental, Drone, Glitch, Ambient
Duração: 42
Nota: 4.0
Produção: Tim Hecker

Em 2013, ao escrever sobre o trabalho do produtor canadense Tim Hecker intitulado Virgins, eu dizia que “a edificação arquitetônica e plástica” de sua obra tornavam justo chamá-lo de “artista musical”. Agora, três anos depois, ao escrever sobre seu sucessor, Love Streams, a descrição talvez tenha sido, de fato, acertada. Hecker parece enxergar no som uma espécie de massa plástica passível de ser esculpida.

Embora a essência Eletrônica Experimental de sua música permaneça a mesma, Hecker aponta para rumos desconhecidos em sua trajetória. Se Virgins era sombrio, sólido e exibia em sua capa uma sucata implodida na prisão de Abu Ghraib, Love Streams, por sua vez, pertence a uma realidade cósmica, espiritual, muito mais etérea.

A grande novidade para Hecker, aqui, é uso da voz, embora sua obsessão continue a dar as caras no seu modus operandi. Algumas faixas foram gravadas com coros de voz, descontruídas em Melodyne, reescritas, e depois regravadas sobre a nova partitura. Tudo isso parece trazer muitas questões conceituais à tona: o que é um som orgânico, um som humano, um som eletrônico? Qual o limite discernível entre eles? Todavia, o trabalho de Hecker supera o alcance de qualquer teoria, impondo-se de modo grandioso sobre a percepção de nossos sentidos, ora transcendental, ora opressor. Além disso, seu humor sarcástico permanece: entre outros exemplos, a capa do álbum advém de um vídeo no qual um coral de policiais chineses se apresenta minutos antes do palco desabar.

Hecker construiu, ao longo de seus oito álbuns, uma carreira sólida e obteve um alcance quase impensável para o tipo de música que faz. Tudo isso mostra-se uma recompensa justa quando pensamos na diligênica do seu modo de pensar o som e no interesse único que este causa no público. Love Streams é o novo exemplar digno desse reconhecimento, e se destaca por revelar o músico redescobrindo sua própria composição de maneira, quem diria, orgânica.

Loading

Autor:

é músico e escreve sobre arte