Resenhas

Vitreaux – Pra Gente Poder Passear

Disco mostra sintomas de um amadurecimento saudável do grupo

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Ano: 2016
Selo: Deck Disc
# Faixas: 13
Estilos: Indie Rock,
Duração: 53:00
Nota: 3.5
Produção: Vitreaux

É curioso como é possível fazer construções anacrônicas por meio da música. Vistas como releituras, quando são emprestados elementos icônicos de outras épocas e os reinserimos em uma produção atual, não estamos apenas enfeitando ou estilizando uma composição, mas recriando significados de estéticas passadas que podem fazer bastante sentido. É disso que algumas bandas às vezes se esquecem, produzindo obras que contemplam inserções genéricas e forçadas, acresentando seus respectivos discos em uma pilha de preguiças tediosas. Felizmente, há projetos que pensam mais a fundo suas referências e Vitreaux é um desses felizardos nomes.

Com um EP já nas costas, a banda mostra que os anos que sucederam o lançamento do mesmo serviram como uma intensa faculdade de amadurecimento no que diz respeito principalmente à forma como o caldeirão de referências sessentistas e setentistas foram harmonizados. Pra Gente Poder Passear é uma espécie de flerte com a Psicodelia Clássica, mas sem apelar para camadas e camadas de sintetizadores como muitas bandas o fazem hoje em dia. Há uma aura analógica, construída por meia de timbres de guitarra e efeitos claros que simulam os primeiros pedais experimentais, tais como Os Mutantes fazia. Junto a isso, harmonias vocais bem construídas dão um toque bem Beach Boys às composições, floreando canções ótimas, como o single Seus Últimos Minutos Psicodélicos.

O grande destaque do disco fica por conta do bom senso dos integrantes. Nada aqui é forçado, e se alguma estética do passado é usada, é apenas como um retoque, deixando toda a alma e coração da composição por conta de arranjos bem feitos e letras divertidas, como Quem Precisa de Help, que não nos deixa mais dúvida da importância que The Beatles tem para os rapazes. É também um disco misterioso, colocando alguns suspiros de nomes ocultos. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a faixa A Mar Te lembra os inconfundíveis corais de Brian Wilson, também dá para sentir uma aura xamânica de Clube da Esquina. Seja proposital ou não, é uma complexidade que dá gosto de ouvir e faz nos faz permanecer entretido durante toda a obra.

Vitreaux segue caminhos promissores e bem planejados, não caindo em clichês e desenvolvendo cada vez mais percepções mais interessantes de passados sonoros. Próximos lançamentos podem mostrar mais maturidade e, com Pra Gente Poder Passear, as expectativas são altas.

(Pra Gente Poder Passear em uma faixa: A Mar Te)

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BOM PARA QUEM OUVE: O Terno, Vanguart, Maglore
ARTISTA: Vitreaux

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique