Resenhas

Minor Victories – Minor Victories

União de forças é justificada na estreia de “super grupo Indie”

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Ano: 2016
Selo: Fat Possum Records
# Faixas: 10
Estilos: Post Rock, Shoegaze
Duração: 50:00
Nota: 4.0
Produção: Minor Victories

Sempre que um chamado “super grupo” é anunciado, eu fico com um pé atrás. A experiência nos mostra que, para cada dez grupos, um acaba conseguindo se tornar interessante o suficiente para desvinculá-lo da origens de seus membros. É curioso imaginar que o excesso de talentos acaba sendo prejudicial em muitos desses casos, pois a união de forças à la Vingadores pode criar expectativas não realizáveis. Não existe um disco bom de um “super grupo”: ele deve ser, no mínimo, distinto ou excelente.

Quando Minor Victories foi anunciado, olhos se arregalaram. A combinação de Slowdive através de sua vocalista Rachel Goswell (Mogwai) com seu guitarrista Stuart Braithwaite além de Justin Lockey (Editors é no mínimo surpreendente e congruente. Seria praticamente o primeiro lançamento de Rachel em mais de dez anos desde seu último disco com Mojave 3, sem contar o hiato decano de Slowdive, que retornou há dois anos emocionando todos. Na mesa, logo teríamos Shoegaze, Post-Rock e Indie Rock, uma combinação que pulsa e tem voz própria no primeiro lançamento da banda.

A únião dos melhores mundos não poderia ser mais impressionante: a voz aveludada e emotiva de Rachel contrasta com cenários cinematográficos providos por Stuart – sempre bem marcados na batida mais acessível de Justin. Se não bastasse tudo isso, a presença de James Lockey, irmão de Stuart, trouxe a estética necessária aos vídeos que vem acompanhando os lançamentos do grupo. Longe do modus operandi da maioria de super grupos, Minor Victories traz inspirações e vozes pessoais que o tornam um projeto muito rico. O primeiro single, Give Up The Ghost é quase um tapa direto na cara de seu ex-namorado e companheiro de Slowdive Neil Halstead – ela ainda não superou as desavenças, aparentemente, conflito visto no maravilhoso documentário feito pelo site Pitchfork.

A Hundred Ropes é o lado Indie do trio vindo à tona, enquanto a linda Breaking a Light nasce no reino do Post-Rock para depois se tornar épica como muitas obras de Mogwaii. Dentro desse bolo, vem duetos lindos, que poderiam ser lado-B de algum Slowdive misturado com Arcade Fire, como Scattered Ashes (Song for Richard) – longe de soar simples reproduções de influências comuns, o trio se combina perfeitamente e traz surpresa a cada canção. Se o tom mais escuro e carregado que abraça o disco parece ser seu tom central, quando as coisas mudam de direção, acaba por novamente nos surpreender.

For You Always soa um pouco mais animada que o resto do disco e traz a voz do polêmico Mark Kozelek em um diálogo bonito que não foge da tensão presente das composições de Minor Victories. Existem alguns momentos de despedaçar corações devido à beleza de seu conteúdo e por trazer Rachel inspirada como não se via há muito tempo – sua presença reconforta e emociona, sendo o sussurro necessário para que as faixas ganhem toques verdadeiros. Não é só beleza, mas também sinceridade. Out To Sea é um desses momentos e merece ser ouvida para entendimento da obra.

De uma forma geral, conseguiu-se quebrar o feitiço de super grupos recentes com Minor Victories, banda que compôs à distância e pouco se conhecia antes das primeiras gravações, mas que soube combinar forças de forma magistral. Para quem ansiava por um disco novo de Slowdive, o pequeno petisco oferecido através da volta de Rachel se tornou uma refeição completa e um novo lugar favorito para se encontrar pensamentos perdidos. The Thief que o diga, ao praticamente encerrar o álbum de forma magistral e nos deixar ansiosos pelo que vem por aí.

(Minor Victories em uma faixa: The Thief)

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.