Resenhas

Lewis Del Mar – Lewis Del Mar

Estreia da dupla norte-americana surpreende pela inventividade e sutileza

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Ano: 2016
Selo: Columbia/Sony
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Eletrônico
Duração: 39:37
Nota: 4.0
Produção: Max Harwood

O álbum de estreia da dupla norte-americana Lewis Del Mar está em rotação aqui em casa e estou pensando se estou diante de algo novo ou de dois caras bem espertos. Em primeiro lugar, o que é “novo”? É o que nunca se ouviu? É uma mistura original? É o que foi feito hoje, que vai ser feito amanhã? É uma abordagem de nossos dias sobre qualquer assunto, seja ele de outra época ou dos tempos em que vivemos? O que é? Me pergunto porque ouço o álbum e me deparo com canções Pop, que têm duração média de três, quatro minutos, refrãos bem feitos e uma abordagem instrumental que, sim, é própria dos nossos dias. Eletrônica é usada de forma elegante nas canções, há muitos samples de percussão, guitarras e violões tocados ao vivo e vocais lineares, tudo em volta de bons arranjos – ainda que repetitivos – e boas intenções. Isso dá pra notar.

Max Harwood (percussões, produção) e Daniel Armbruster (voz, guitarras) formam o duo. Moram em Queens (Nova York), mas viveram a infância e adolescência em Rochester, uma cidade às margens do Lago Superior, no estado americano de Nova York e, de alguma forma, sua música capta essa vida à “beira lago”, ainda que isso não seja equivalente a dizer que suas canções são solares. Estão mais para aquela boa caminhada na praia quando é outono/inverno. A dupla lançou algumas canções na Internet e logo foi fisgada pela Sony. Devidamente contratada, lançou um EP há cerca de um ano e tornou-se sensação no circuito alternativo de NY. A expectativa pelo primeiro álbum era grande e o site do duo indica que os rapazes estão em alta rotação pelos Estados Unidos e tem datas agendadas para novembro em países da Europa, em sua primeira turnê internacional.

As canções do álbum me trouxeram um sentimento estranho. Precisei chegar até a nona – e melhor – faixa, a soberba Islands para entender toda a mecânica de Lewis Del Mar. O lance não é a novidade pura e simples, como meta. É a revisita desta tristezinha aquática, essa contemplação serena, que, devidamente manipulada pelos caras, sofre intervenções eletrônicas, percussivas e ganha um impulso diferente. Não é acaso, é processo criativo mesmo. A eletrônica é colocada discretamente nas melodias, mas torna-se parte indissociavel delas. São ecos, reverberações, marcações de ritmo, samples de batidas e andamentos, tudo isso, arquitetura sonora de Max Harwood, parece intencionalmente pequeno ao lado da boa voz de Daniel, que ganha força e mostra-se bem inserida no contexto.

Há mais nuances por aqui, claro. O hit Loud(y), que ganhou os olheiros da Sony, é uma belezura mesmo. Riffzinho de violão/guitarra, que vai sendo encampado por um baticumcum cibernético feito por uma drum machine comprada no mercado negro dá o tom de combustão da faixa e leva o ouvinte a pequenos rodopios. O bom é que o violão/guitarra não é deixado de lado, gerando aquele bom clima eletroacústico que é tão mencionado por aí, mas poucas vezes alcançados. Such Small Scenes, a faixa de abertura, também é um ponto alto do que a dupla se dispõe. Novamente acordes são dissecados no violão para a entrada de uma percussão estranha, mas legal, que dá o tom de tudo que virá a seguir, especialmente um belo refrão. Outras belezuras fluidas e branco-acinzentadas surgem pelo disco adentro, especialmente Puerto Cabezas, NI, Painting (Masterpiece) e uma proto-balada de encerramento, a bela Live That Long.

Mais que novo, mais que inédito, Lewis Del Mar é bom Pop, cheio de detalhes e impressões pessoais, oferecendo uma identidade bem nítida para o ouvinte. É alternativo mas tem potencial para ganhar o coração e os ouvidos de cada vez mais gente por aí. Você vai gostar.

(Lewis Del Mar em uma música: Islands)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.