Resenhas

David Byrne e St. Vincent – Love This Giant

A tão aguardada colaboração entre esses dois grandes artistas finalmente aconteceu e consegue ser experimental o suficiente para se tornar incrivelmente acessível

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Ano: 2012
Selo: 4AD
# Faixas: 12
Estilos: New Wave, Experimental
Duração: 44:20
Nota: 4.5

Ele é um dos músicos mais importantes do ultimo século, ela é uma das artistas mais relevantes do cenário Indie atual. David Byrne e St. Vincent tem projetos tão expansivos e experimentais, que mesmo tão distintos, se interseccionam em um ponto: o de não temer experimentar o que suas imaginações criarem. A colaboração desses dois nomes de peso não poderia ser menos ousada e se provar tão boa quanto, se não melhor, que seus trabalhos solos. Love This Giant é um projeto que demorou pelo menos três anos para ser completo e todo esse tempo de produção se justifica já à primeira audição, quando logo de cara se vê toda a sofisticação e acessibilidade do álbum.

A capa foi inspirada no conceito da “A Bela e a Fera”, mas ao contrario do que imaginaríamos, Byrne assume o papel de “Bela” (ou “Belo”, no caso) e Annie Clark é a fera a ser domada. A musicalidade do álbum também assume esse contexto, mas de uma forma mais branda e tendo uma constante troca de papeis em seu decorrer. A vibe de filmes de Disney ou espetáculos da Broadway pode ser percebida no disco através dos arranjos construídos quase que só à base dos metais e da grandiosidade do próprio projeto – a música que mais carrega isso é Outside Of Space & Time, que poderia facilmente encerrar qualquer filme clássico do estúdio.

Com sua experiência e inventividade, Byrne traz a esse projeto a maturidade de suas obras, não só na música, mas também nas artes, cinema e teatro – vem daí muito da teatralidade vista aqui. Annie dá sua jovialidade, experimentação Pop e a ideia de construir os arranjos usando os metais. Juntos, é como se cada um vestisse as roupas do outro em uma grande troca de experiências – visto a “talkingheadiana” Ice Age, na qual Clark assume inteiramente os vocais, e I Should Watch TV, cantada por David, que tem as cacofonias sonoras que tanto se vê no trabalho de St. Vincent, mas dessa vez causada pelos metais. Já outras faixas, como Who e Dinner For Two, parecem ser o exatamente o ponto de intersecção dos dois artistas, casando muito bem as características de cada um.

Sonoramente, esse é um disco abrasivo e forte, e que mistura perfeitamente ritmos e batidas feitas digitalmente (que de tão artificiais simulam muito bem os instrumentos reias) aos já citados metais. Fora a isso, ele viaja por muitos estilos como Funk, Afro-Beat, New Wave e R&B, sem se prender a nenhum deles. A guitarra de Annie aparece em poucos faixas, mas quando se mostra toma conta da cena – Who e The Forest Awakes são músicas que ganham muito com a presença dela. Os vocais de Clark também recebem um grande destaque, oscilando entre uma voz mais sedutora em Lazarus, sonhadora em Optimist ou festiva em Weekend In The Dust. Byrne não fica atrás nesse quesito, apresentando uma elasticidade menor, porém eficiente e que se evidencia nos duetos.

As expectativas para esta colaboração eram altíssimas e foram atendidas prontamente em Love This Giant. Conceitual ao ponto de não ser somente um apanhado de canções feitas pela dupla e acessível o suficiente para não soar como um álbum cabeçudo feito por dois artistas incríveis, o disco se apresenta nesse meio termo, num ponto ótimo entre cada um dois envolvidos. Para o ouvinte, é uma experiência nova e talvez única de vê-los juntos, então deve ser aproveitada a cada audição.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts