“A beleza ideal está na simplicidade calma e serena”. Quem disse essa frase foi o alemão Johann Wolfgang von Goethe, um certo alguém que escreveu o já clássico Fausto. Cito a frase desse figurão da literatura germânica logo de começo porque ela me parece descrever muito bem o espírito do novo disco do irlandês, quase brasileiro, Johnny Fox.
Cais (título inspirado na faixa de mesmo nome do grupo Clube da Esquina) nasceu como um projeto colaborativo entre Fox e Samantha Capatti (namorada do cantor), com os arranjos dele e letras dela. Cantado em um português cheio do sotaque saxão, o disco se formou a partir de recortes musicados do diário dela, trechos bem pessoais que se propagam na voz e na música de outra pessoa, mas que talvez represente o encontro entre água e terra em um cais.
As letras são bem sinceras (afinal, vieram de um diário) e, ainda que interpretadas por outro interlocutor, me parecem ainda assim bastante genuínas. Quanto aos arranjos, o disco parece bem acertado à proposta de soar mais íntimo. Grande parte das músicas se constroem a partir de um violão dedilhado ou de uma guitarra em um timbre mais delicado e de outros elementos que entram no mix de forma sutil. A escaleta em Xícaras de Chá ou os metais em Exposta são exemplos disso.
Para o Folk do irlandês ficar ainda mais brasileiro, Johnny usa alguns áudios de uma feira a céu aberto em Xícaras de Chá ou de uma conversa sobre a receita de uma sopa em Espaço. Algo simples, mas que demonstra uma intimidade com o país, ou mesmo com Samantha, dois dos principais pilares deste disco.
(Cais em uma faixa Xícaras de Chá)