Resenhas

American Football – American Football (LP2)

17 anos separam um disco icônico e um novo sem tanta inspiração

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Ano: 2016
Selo: Polyvinyl
# Faixas: 9
Estilos: Emo, Math Rock e Indie Rock
Duração: 37'
Nota: 2.5

Parque dos Dinossauros, As Caça Fantasmas, Tartarugas Ninjas. Todos esses são filmes que ganharam recentemente um reboot nas telonas e que têm em comum o fato de recriarem uma mitologia iniciada há anos e adaptar um panteão de personagens aos tempos de hoje. O que mais eles têm em comum? Ao trazer ao presente essas tramas e abrirem concessões narrativas para tal, muitas das coisas mais profundas ou mais interessantes se perderam, ainda que traga diversas semelhanças com o material original.

Da mesma forma, o segundo registro do grupo norte-americano American Football também cai nessa armadilha. Sim, American Football ou LP2 me parece um reboot de American Football, debut lançado em 1999 – ideia que ganha força pelo fato da banda repetir o título. As ideias e os elementos estão aqui, mas parecem perdidos dentro de um novo lançamento que se esvazia do poder e da emoção presentes naquele tão importante álbum do século passado.

Não cabe aqui discutir a importância da banda para o Emo, mas ver que, enquanto o quarteto estava separado, seus membros continuaram produzindo música. O líder Mike Kinsela foi o mais prolífico deles e hoje em dia tem uma obra tão vasta que é possível pescar aqui e ali momentos talvez mais iluminados que sua curta carreira com American Football. E não ficar parado no tempo talvez seja o que torne esse disco inferior ao debut. O que era paixão e dor, se tornou complacência com o passar dos anos.

Nestes 17 anos longe da banda, Kinsela progrediu como letrista, músico e pessoa, deixando para trás aquele tom juvenil que apresentou no primeiro registro do grupo. Ter de voltar àquele tipo de escrita ou tentar trazer à tona emoções daquela época, mas com sua cabeça de hoje em dia, parece o ter deixado perdido nas letras ou pelo menos incapaz de criar momentos tão impactantes quanto aqueles. “Se em seu primeiro álbum o músico focava em sua partida de um ambiente familiar em direção a um território desconhecido, talvez esta nova fase diga respeito justamente à sensação de reencontro e de tempo perdido, uma longa jornada de 17 anos, enquanto a banda se manteve separada.”, pontuou e acertou Roger Valença num artigo escrito logo ao anúncio do álbum.

Assim como as letras, a parte instrumental igualmente perde sua força. Se no primeiro disco, ainda que através de faixas lentas e hipnóticas, a banda era capaz de transmitir angústia e força através de suas melodias (pontuadas por uma percussão robusta e por momentos nebulosos), aqui me parece que isso ficou em segundo plano. O disco apresenta uma casca vazia do que a banda costumava ser. Claro que as guitarras arpejadas, os tapings e todas as outras técnicas dos instrumentos continuam aqui, mas o resultado parece ser uma cópia de si mesmo e nada mais.

No fim das contas, o disco parece um retorno a si mesmo como um reboot de um filme antigo – até mesmo a capa que parece fotografar uma escada dentro da casa do primeiro registro dão essa cara de reinício ao invés de uma continuação. Bom, como o reboot dos filmes já citados, o disco simplesmente não é bom. Não justifica seu parentesco com seu predecessor. Inclusive, as músicas que mais se destacam aqui (Desire Gets in The Way e Give Me The Gun) são exatamente as que fogem desse som já estabelecido em 1999.

(American Football em uma faixa: I’ve Been So Lost For So Long)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts