Sarcasmo, ironia e tédio parecem dar o tom da juventude nos dias de hoje. Várias de nossas manifestações (sejam artísticas ou não) se constroem a partir de pelo menos um desses pilares, seja a vontade de fazer algo para fugir do tédio, consumir algo de forma irônica ou carregar de sarcasmo a justificativa de realizar alguma coisa. A estreia do músico mineiro Filipe Alvim, Beijos, parece ser justamente uma soma desses três fatores.
“Você pensa que tá bom, mas podia estar melhor”, frase dita na faixa de abertura, Vida Sem Sentido, já expõe esses três elementos que aparecem durante toda extensão do álbum em proporções diferentes. O músico constrói sua arte a partir dessa mistura agridoce que fica ainda mais evidente quando se contrasta o instrumental ensolarado de Miragem com suas letras (“O que eu tenho é uma casa fria/Onde o vento bate e faz estrago/Tanto faz se eu não deixar/Tanto faz”), por exemplo.
Boa parte das músicas vem do choque de um instrumental Lo-Fi às vezes animado, às vezes profundamente deprimido e letras que vão na contramão disso, partindo para um lado totalmente desesperançado (Cama Redonda) ou num otimismo irônico (O Erro). Se a expressão “Rock Triste” foi cunhada para diversos artistas mineiros representantes de um Rock mais reflexivo e de certa forma depressivo, Alvim se encaixa perfeitamente no rótulo que vem conseguindo destaque com público.
Batendo na marca de 20 minutos, o disco apresenta oito faixas que que invariavelmente caem nesta mesma fórmula “dialética” entre letra e arranjos, o que torna um pouco cansativo a absorção de todo conteúdo, por mais que haja alguma variedade musical (como se pode ver no contraste entre Miragem e Botanagua).
(Beijos em uma faixa: Vida Sem Sentido)
