Resenhas

Split Single – Metal Frames

Supertrio Alternativo encarna espírito do puro Powerpop

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Ano: 2016
Selo: Inside Outside Records
# Faixas: 11
Estilos: Power Pop, Rock Alternativo, Hard Rock
Duração: 33:18
Nota: 4.0
Produção: John Narducy

Metal Frames é o segundo disco de Split Single, o “supergrupo indie” bolado e disponibilizado pelo guitarrista John Narducy. O termo se aplica porque, ao lado dele, estão o baterista de Superchunk, Jon Wurster, e o baixista de Wilco, John Stirratt, livres de qualquer compromisso com a estética de suas bandas originais e motivados pela diversão total.

O disco configura-se como uma verdadeira delícia cremosa. Digo isso porque, como bom álbum Powerpop, ele é associado, pelo menos na mente estranha deste que vos escreve, a tardes imaginárias numa sorveteria em meio a uma temperatura de verão, com carros coloridos passando na rua lá fora e todos os meus amigos, de várias épocas, reunidos pedindo sundaes, bananas-split, milk-shakes e toda sorte de sinônimo alimentar para inocência e tempos de leveza. Sim, porque Powerpop tem a ver com isso, é – usando outra metáfora alimentar-gordista-infantil – aquele baleiro transparente cheio de bolotas coloridas de chiclete todinho só pra nós.

Deixando isso de lado e partindo para o que interessa. Narducy propõe aqui um exercício de estilo, o de emular convenções guitarreiras em vigor desde os anos 1970, nas quais acordes mais pesados envolvem melodias angelicais. No caso do pessoal que tem memória musical mais recente, um bom parâmetro é o primeiro álbum de Foo Fighters, quando a banda surgia como uma arejada e luminosa alternativa para o recém-desfeito Nirvana. Naquele tempo, Dave Grohl abraçava estas mesmas referências para dar sentido ao novo grupo, não por acaso, junto com influências de todo o Rock alternativo anglo-americano, mas com maior ênfase no lado ianque do termo, muito mais para bandas como Kiss e Cheap Trick do que para The Beatles.

Ao longo das onze faixas, Split Single se mostra competente o bastante para enfiar refrãos ganchudos, levadas sublimes de guitarra, arranjos em crescendo, bons vocais e, acima de tudo, melodias grudentas por toda parte. São vários exemplos de ourivesaria Pop que não morre nunca e se mantém sempre refrescante. Narducy é esperto o bastante para dar uma aura alternativa a suas criações, tornando tudo mais próximo do ouvinte geral, que identificará várias pistas meio ocultas na sonoridade, fazendo a ponte com suas bandas queridas dos anos 1990 ou um pouco antes. Há exemplos de pequenas pepitas douradas em meio ao feixe de canções. A faixa de abertura, Glori, já coloca as cartas na mesa do ouvinte, mostrando o que o disco oferecerá pelos próximos trinta e poucos minutos, basicamente, diversão auricular em mais e melhores momentos de deleite. Leave My Mind, a melhor do álbum, é um Corvette vermelho conversível andando numa paisagem de estrada aberta, com vento nos cabelos e tudo o que se tem direito. Tem backing vocals angelicais, um riff minimalista de guitarra e uma linha de baixo marcante, que segura tudo e dá coesão ao longo dos três minutos e quarenta segundos.

Still Invisible é totalmente foofighteriana, caso a banda de Grohl e seus amigos tivesse dado certo de verdade. Tem cara de fita demo gravada na garagem, sob o olhar de posters de heróis e bonecos miniatura dos integrantes de Kiss. Perilous Pill vai pelo mesmo caminho, totalmente noventista e encardida, mas com vocais inocentes e um riff constante e curto que pontua a melodia dourada em meio a mais vocais de apoio na melhor tradição. Os menos de dois minutos de White Smoke, a canção mais nervosinha do álbum, ainda são capazes de revelar mais detalhes foo, algo que Grohl sempre tentou fazer, mas que ficou na promessa. Untry Love é mais belezura dourada, Blank Ribbons é fofa na medida do possível. Tudo funciona.

Metal Frames é um disco espontâneo, cheio de atrativos e que não faz feio num programa de bandas alternativas atemporais. Sempre haverá alguém tentando alcançar um hipotético Olimpo do Rock no qual cada um tem sua gostosura adolescente garantida em forma de som. A busca por isso, alguém dira nalgum dia do futuro distante, é a mola-mestra disso tudo. E você terá lido antes, aqui no Monkeybuzz. Ouça sem sustos e apaixone-se sem contra-indicações.

(Metal Frames em uma música: Leave My Mind)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.