El-P, rapper e produtor que configura um dos lados da dupla Run The Jewels, contando em uma entrevista sobre a impressão de um amigo cineasta sobre seu novo trabalho, disse: “Se Run The Jewels 2 era Quentin Taratino, o lançamento da vez é Christopher Nolan”. El-P, ao lado de Killer Mike, forma um grupo de Hip-Hop que podemos, de fato, encarar como um filme de ação. Explosivo, acelerado, e cheio de parafernália pirotécnica, a dupla atingiu a consagração artística com o peso de um paradoxo nas costas, o de como soar relevante sendo controverso.
Run the Jewels 3 aparenta ser, de fato, mais um atestado de autoridade do que uma proposta inovadora. É “Christopher Nolan” porque, ao lado de seus antecessores, soa mais complexo, espacial e, acima de tudo, sombrio. É também o mais longo entre seus pares, ultrapassando a marca dos 50 minutos de duração. No entanto, apesar de manter sua faceta política engatilhada (ouça 2100, preenchida pela espírito apocalíptico pós-eleições estadunidenses), prefere atuar naquele território muito bem conhecido de antes, o da bufonaria. A dupla comporta-se, em suas letras rápidas, densas e críticas, como um par de anti-heróis, utilizando humor para desarmar autoridades, soando agressivo deliberadamente, o que transforma Run the Jewels 3 em um manual de desobediência civil – auto-irônico – do Rap.
Seu território musical encontra-se na tangente entre Missy Elliott, Justice e RZA, e evoca um clima tenso, mas, por isso mesmo, envolvente e carregado de adrenalina. Após cinco faixas de qualidade na introdução do trabalho, a maior ressalva fica por conta da tempo alongado do disco, que acaba cansando o ouvinte por nunca baixar seu ritmo em sua (quase) uma hora de duração. No entanto, esse parece ser, justamente pela dupla evocar tanta segurança e autoridade no que sabe fazer, o trabalho mais prazeroso de se ouvir de Run The Jewels até agora, completando uma espécie de trilogia tácita na trajetória do grupo.
(Run The Jewels 3 em uma música: Call Ticketron)