Resenhas

The xx – I See You

Clima gélido de trio londrino começa a derreter aos poucos

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Ano: 2017
Selo: Young Turks
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Dream Pop, Indie Eletrônico
Duração: 39:15
Nota: 3.5
Produção: Jamie xx, Rodaidh McDonald

A faixa de abertura de xx (2009), o disco de estreia do trio inglês The xx, mostrava ao mundo o nascimento de uma nova promessa Indie. Incorporando elementos climáticos – a melancolia aquática carregada de reverb – de um estilo prestes a se consagrar na música alternativa da virada da década, a banda formada por Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith (também conhecido por sua alcunha Jamie xx), antecipava, à sua maneira, o uso da atmosfera R&B no Indie Eletrônico, elaborada a partir de um mínimo de detalhes: notas soltas de guitarra, contrabaixo assertivo e vocais relutantes, cheios de espaços vazios, eram a fórmula de sucesso que levaria o grupo em direção ao seu primeiro Mercury Prize.

Tal marca registrada é, ao mesmo tempo, o que mantém a banda discriminada em seu lugar isolado. Na linha de frente de um grupo obscurecido pelas sombras, estão dois vocalistas que parecem cantar cansadamente as mesmas melodias taciturnas, um lugar no qual tudo é tão espaçado que cria uma espécie de vácuo sonoro; é difícil respirar, e qualquer elemento é cuidadosamente reconsiderado pelo peso melancólico que traz. O intervalo de tempo entre Coexist e seu recente lançamento indicava que, caso The xx insistisse em seus lugares-comuns, corria o risco patinar em seu som glacial.

É por isso que I See You caracteriza uma metamorfose nítida – não no sentido de uma melhora qualitativa, mas sim no de uma transformação com um timing excelente – na sonoridade proposta pelo grupo. Não apenas a banda parece abrir seus olhos para aquele que ouve sua música, outrora fechados introvertidamente para a própria dor, como também parece ter adquirido segurança suficiente para, em seu terceiro álbum, incorporar novos elementos à sua zona de conforto.

Fica difícil não pensar que o principal responsável por tal mudança não seja Jamie xx, terceiro elemento da banda, e um dos produtores do álbum ao lado de Rodaidh McDonald, graças à assinatura musical de seu primeiro álbum solo, In Colour (2015). Faz sentido imaginar I See You como uma introjeção de cor proposta por Smith. A capa do álbum lembra um espelho de gelo derretendo, vislumbrando um céu azulado como uma realidade não-tão-distante assim. As sirenes de introdução em Dangerous evocam um clima dançante. Replica inclina-se adiante e envolve o ouvinte com um pano de fundo granulado. On Hold traz um sample de Daryl Hall & John Oates como gancho para o refrão.

É claro que, mesmo com a inovação pessoal que propõe, The xx mantém-se o projeto que era até então, ainda pendente à melancolia, mas um pouco menos fechado em si mesmo. Incorpora com mais generosidade as idiossincrasias de seus membros, seja de Smith como produtor, seja de Madley Croft e Sim como compositores-instrumentistas, gerando uma sonoridade mais universal.

(I See You em uma música: Replica)

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BOM PARA QUEM OUVE: Phantogram, Fear of Men, Beach House
ARTISTA: The xx

Autor:

é músico e escreve sobre arte