Resenhas

G T’aime – G T’aime

Dupla surpreende com seu Pop atemporal

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Ano: 2017
Selo: Joia Moderna
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 33:08
Nota: 4.0
Produção: Maurício Takara

Não é vergonha para ninguém admitir que muitos dos artistas que resenhamos são desconhecidos até que sejamos pautados, certo? Não há problema em confessar que não havia ouvido falar de G T’aime até receber a incumbência de emitir opinião seu álbum de estreia. Com este nome, pensei tratar-se de um grupo modernoso americano ou francês e foi com surpresa que descobri – porque a gente pesquisa muito antes de escrever qualquer coisa sobre um artista – que era uma dupla brasileira. Até a quarta faixa, Oh, No, não há qualquer indício de elementos capazes de denunciar uma produção daqui, pelo menos até o momento em que a letra de inglês é substituída por versos em português. O que vocês precisam saber é que G T’aime, o álbum, é uma surpreendente joia de Pop classudo e atemporal.

Neste primeiro trabalho da dupla, formada por Geanine Marques e Rodrigo Belotto, a ideia é colocar em prática uma visão bem peculiar de Pop, luxuosa, mas acessível. Com boas – às vezes ótimas – composições e uma produção (a cargo do competentíssimo Maurício Takara) que saiba direcionar os esforços da dupla na direção a que se propõe. São dez canções com momentos que lembram a melancolia do Pós-Punk oitentista, algumas com certo ar de um New Order inicial acústico, outras um The Smiths de baile, umas poucas que parecem Everything But The Girl de garagem (tudo no melhor sentido dos termos), preservando uma espontaneidade apaixonada, com arranjos que dão muito espaço pra guitarras e baixos cheios de timbres saudosos, postados como guarda-costas da voz de Geanine, que transmite sentimento e sensualidade na medida certa.

Dizer que as canções são meras recriações da década de 1980, no entanto, é ser reducionista. O grande charme do álbum está num certo ar chique, de Pop europeu setentista, de transmissões numa TV em Cinemascope, ostentando um verniz retrô simpático que só ele. O que é determinante pra toda essa engrenagem funcionar, repito, é a existência de belos espécimes Pop nas dez faixas. Ouso dizer que não há uma só composição que não tenha luz própria por aqui. Canções como a graciosa Dreamer enchem o coração de esperança numa grande quantidades de compositores brasileiros com noção internacional de bom Pop, capazes de sintetizar influências distintas e parir belos exemplos de três minutos. Com arranjo enfatizando as guitarras de Belotto, a faixa tem um clima nostálgico de algo nunca ouvido. É assim que se faz.

Outras belas canções habitam por aqui. A abertura noturna e insinuante com Said It All, pavimentando uma alameda noir e climática para o ouvinte se ambientar logo de cara. Nothing But Words, que já apresenta certa ambiência de coquetéis psicodélicos na beira da piscina, mostrando que a dupla também tem coloridos musicais para mostrar. Cherry tem uma bateria eletrônica charmosa e delicada, com belo trabalho de guitarras aquáticas e jeitão de música que a gente dedica pela primeira vez para alguém que gosta muito. Forest, quase xará de canção do The Cure, tem mais bateria puladinha e ênfase nas seis cordas, que se duplicam e triplicam aqui e ali. Amarrando tudo, a voz de Geanine soa além do competente, com charme e pinta de chanteuse misteriosa.

Este disco é uma pequena belezura. Competência, surpresa, boas sacadas na produção e uma boa ideia, a de fazer este Pop luxuoso, chiaroscuro, com boas referências e tudo mais. Indicado para quem pensa que a música nacional não faz nada de legal, novo ou que mereça ser ouvido.

(G T’aime em uma música: Dreamer)

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BOM PARA QUEM OUVE: Banda do Mar, Mahmundi, SILVA
ARTISTA: G T'aime

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.