Resenhas

Los Campesinos! – Sick Scenes

Banda galesa ainda tem lenha pra queimar em sexto álbum

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Ano: 2017
Selo: Wichita
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Rock
Duração: 40:18
Nota: 4.0
Produção: John Goodmanson

Ouço canções e discos dessa geração de bandas surgidas até meados da década passada e tenho certeza que elas jamais pensaram em durar mais que dois, três anos. O caso dos galeses de Los Campesinos! é o oposto, ou seja, já se vão quase dez anos de carreira e este Sick Scenes é o seu sexto álbum. A juventude e a explosão de outrora ainda estão presentes, devidamente canalizadas em outras demonstrações que se traduzem muito mais além de alguma explosão de baterias rápidas e guitarras raivosinhas. Tudo está presente neste disco, um simpático diadema de onze faixas redondinhas, cheias de charme e referências pouco comuns. Há medicina, geografia, futebol e uma fofura implícita nos arranjos que só joga a favor.

O grande debate sobre longevidade e poder de fogo como duas instâncias entrelaçadas necessariamente perde força diante da qualidade das canções, que se sobrepõe à atitude da banda em si. Verdade seja dita que Los Campesinos! jamais pretendeu ser uma formação séria, com músicas e discos voltados para temas centrais fechados, apesar disto variar de tempos em tempos. Aqui eles parecem muito próximos do que consideram o ideal, seja em termos de arranjos – mais ou menos guitarras e ataque – seja através da tal esperteza nas referências usadas na elaboração das letras. Tudo conspira em favor de uma harmonia invejável, resultando em alguns momentos muito acima da média do enfraquecido Pop Rock, diluído em subgêneros como Indie, Alternativo ou algo no gênero.

Há algumas canções muito boas por aqui. A abertura, com a sensacional Renato Dall’ara (2008), uma referência explícita ao principal estádio de futebol da cidade italiana de Bolonha, não entrega a inegável habilidade do grupo no álbum, que é a confecção de melodias acima do próprio padrão, mas conquista pela alegria. A triste e pungente I Broke Up In Amarante fala de um amor encerrado prematuramente bem distante do País de Gales natal da banda, no caso, em Portugal, em meio a um arranjo que tangencia o Emo noventista, algo que poucos viram e/ou conhecem por aqui. É sentido e rápido ao mesmo tempo, como deve ser. A próxima canção é um tiro na mosca, a saber, 5 Flucloxaclin, nada além de um antibiótico, que o personagem da letra precisa tomar por conta de sucessivas ressacas que lhe enfraquecem o organismo de tal forma que o remédio torna-se necessário.

Nenhuma destas, apesar de ótimas canções, é capaz de barrar a melhor e mais luminosa faixa do álbum: For Whom The Belly Tolls, com trocadilho sensacional no título e um parentesco inequívoco com When We Were Young, sucesso velhusco de The Killers, porém muito melhor resolvida e aerodinâmica, com direito a final apoteótico/impactante, mostrando a inequívoca habilidade dos sujeito, que também surge com certificado de garantia na balada A Litany/Heart Swells, que referenda a teoria da maturidade artística no Rock, que só chega quando a banda/artista se mostra capaz de assinar uma boa e dolorida balada. É exatamente o caso.

Este álbum de Los Campesinos! não vai mudar sua vida a longo prazo, mas pode proporcionar momentos de felicidade musical total, daqueles em que a gente fecha a porta do quarto, aumenta o volume e ouve algo até decorar a letra e tudo mais. Quem nunca? Caia dentro.

(Sick Scenes em uma música: For Whom The Belly Tolls)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.