Resenhas

Dams of the West: Youngish American

Baterista da banda Vampire Weekend estreia em ótimo álbum solo

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Ano: 2017
Selo: 30th Century/Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Rock
Duração: 37:38
Nota: 4.0
Produção: Patrick Carney, Chris Tomson e Roger Moutenot

Dams Of The West é o nome que Chris Tomson, baterista da banda Vampire Weekend adotou para sua carreira solo. O primeiro trabalho, Youngish American, sugere que o sujeito é muito mais hábil do que se supunha, demonstrando um inegável talento como vocalista, compositor e artesão de melodias memoráveis. Além disso, Chris tem uma especial fixação pela música Pop oitentista, a ponto de parecer, ao mesmo tempo, uma versão adolescente do Tears For Fears inicial, um Elvis Costello desabrochando e um Paul Simon pré-Graceland, que vive numa realidade alternativa. Convenhamos, são credenciais pra lá de interessantes para um sujeito que apenas segurava baquetas há pouco tempo.

É bem verdade que o próprio Vampire Weekend é um grupo com interesse no mesmo recorte musical que Chris, igualmente preocupado em reempacotar as influências e criar coisas novas. Dams Of The West surge com ainda mais capacidade de reprocessar sonoridades e exibe um bom gosto invejável na hora de optar por arranjos e adereçar suas canções com detalhes tão pequenos de nós todos, que fazem enorme diferença no produto final. Ao lado de Patrick Carney e Roger Moutenot, sujeitos cascudos e com respeito tecnológico/musical de sobra, Chris Tomson assume a produção de seu disco, dando a ele sua cara e obtendo o melhor dos colaboradores. O grande barato do álbum é que toda essa metodologia de trabalho, composição e produção surge naturalmente nas canções, não sendo perceptível para o ouvinte, sendo necessária enorme atenção para pescar esses mecanismos.

Boas canções, o nosso já conhecido parâmetro para determinar o talento dessa gente, estão presentes em abundância. Youngish American é aquele tipo de álbum que não apresenta uma faixa ruim, exibindo momentos de doçura melódica incontestável, duas delas muito acima da média: Flag On The Can e o single Death Wish. A primeira parece revestida de veludo sonoro, cheia de detalhes, mudanças sutis de andamento, entrada e saída de guitarras, idas e vindas de refrãos e um instrumental elegante, que se mostra aberto a possibilidades bem sutis o tempo todo. Por baixo, uma melodia invejável. Já a segunda é igualmente bem confeccionada em termos de arranjo, usando bem teclados e guitarras africanas sutilíssimas, mantendo-se em um classudo andamento em midtempo.

Chris também mostra-se criativo. Quase sempre suas composições exibem mecanismos antimonotonia. A bateria de Pretty Good Wi-Fi é um caso explícito, no qual a canção surge como se fosse uma espécie de valsa de guitarras e teclados, com uma levada oblíqua e deliciosamente estranha, que traz efeito sensacional. A segunda faixa, Tell The Truth também faz bonito, com uma linha de baixo engordada e pinta de canção do início dos anos 1960, devidamente repaginada. A faixa-título, lá no fim do álbum, exibe pianos belos, que se dobram com baixo e teclados, gerando uma canção robusta e própria para uma audição com fones de ouvido, tamanha a gama de detalhes, sobretudo o uso das teclas.

Este disco é uma simpática prova de talento e opção por uma canção Pop e elaborada, calcada em boas influências e tratadas com carinho. Tudo é feito para oferecer chance ao ouvinte de fazer cara de surpresa e soltar sua mente para vagar dentro das faixas. Uma beleza de estreia.

(Youngish American em uma música: Flag On The Can)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.