Resenhas

Summer Moon – With You Tonight

Projeto de baixista da banda The Strokes não vai além do Pop oitentista

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Ano: 2017
Selo: Membran
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Rock Eletrônico
Duração: 34:10
Nota: 3.0
Produção: Matt Boynton e Brad Bell

Este álbum de Summer Moon é o equivalente sonoro a um bom almoço numa lanchonete fast food. Vai te fazer feliz, dar certa impressão de barriga cheia, custará pouco (em tese, né?) e vai resolver um desses pequenos impasses do cotidiano moderno: pouco tempo/pouca grana pra comer. Veja, isso não quer dizer que With You Tonight é um disco ruim, pelo contrário, é uma boa fornada de canções compostas e chefiadas por Nikolai Fraiture, baixista de The Strokes. Ouvindo as faixas, dá até pra jogar no colo dele as discretas mutações oitentistas/esquisitonas que a banda sofreu nos últimos discos antes de seu hiato, especialmente em Angles. São os trabalhos favoritos deste articulista, que não é fã do grupo, provavelmente os mais detestados pelos admiradores fiéis.

Summer Moon é um projeto paralelo, algo, por definição, menos encanado, no qual há mais liberdade. Fraiture exerce esse direito ao lado de amigos, a saber, Stephen Perkins (Jane’s Addiction), Camila Grey (Uh Huh Her) e Noah Harmon (The Airborne Toxic Event), que conferem um ar ainda mais espontâneo a este interessante saque ao baú da música inglesa do início dos anos 1980, especialmente da conexão New Order-The Cure, com direito a muitos timbres cavernosos de teclados, baixos palhetados à moda Peter Hook e baterias robóticas intencionais. Toda essa embalagem estética serve bem a um conjunto de canções bonitinhas, porém rasas, que funcionam nessa lógica imediatista de audição/consumo de algo que parece novo, mas que demonstra ter pouca autonomia para vôos mais altos, com pouca pinta de algo que merece um prego na parede da sua memória.

Mesmo que seja um trabalho de musiquinhas esquecíveis, With Me Tonight tem exceções. A principal é a faixa-título, que ostenta um bom diálogo entre baixo e bateria, com direito a ornamentos de guitarras fluidas e vocais imersos em efeitos cavernosos bastante convincentes. Coisa de quem estudou os tiques e taques da produção Pop daquele início de década com afinco. L.I.T.A mostra mais um bom diálogo entre baixo e bateria sintética, com bom potencial dançante e bom uso da guitarra. Os vocais ficam com Fraiture na maior parte das canções, mas Camila Grey dá o ar de sua graça na strokiana Cleopatra, com bom trabalho de teclados ambientes. O baixo característico do New Order inicial é decalcado com precisão em Happenin’, que tem vocais que orbitam a interseção entre Ian Curtis e Jim Morrison, um grande feito para Fraiture, sem dúvida.

As outras faixas não seguem o mesmo padrão. Há frouxidão no clima puladinho proposto em Class A e nos efeitos dark-psicodélicos de Chemical Solution. Girls On Bikes, apesar do ótimo título, entrega uma maçaroca tecladeira pouco inspirada, que emula mais New Order, dessa vez sem muito sucesso. Cars vs Bldg também tenta articular as influências em algo novo mas também naufraga na banalidade da melodia e na pouca criatividade do arranjo. Esse também é o caso de Into The Sun, banal em sua tentativa de soar climática. A faixa de encerramento, Walk Out Music, é povoada por teclados gélidos, que falham na missão de conferir solenidade para a canção.

Summer Moon é isso, um projeto paralelo razoável, com momentos inspirados e outros nem tanto. Não vai dar a sustância necessária/desejada, mas não parece algo pensado com intenções maiores que a diversão dos músicos e dos ouvintes. Ouça, goste/não e descarte.

(With You Tonight em uma música: With You Tonight)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.