Resenhas

Tennis – Yours Conditionally

Dupla recria climas retrô mas não esquece das ótimas canções

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Ano: 2017
Selo: Mutually Detrimental
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Lo-Fi, Rock Alternativo
Duração: 36:17
Nota: 4.5
Produção: Patrick Riley e Alaina Moore

Tennis é formado pelo casal Patrick Riley e Alaina Moore, que vivem juntos há cerca de dez anos. A ideia deles é fazer música retrô em vários sentidos. Os alvos são as canções douradas dos anos 1960, daquelas que tocavam nas paradas de sucesso veiculadas nos radinhos de pilha. Além delas, a dupla também tem interesse na atmosfera da virada dos anos 1970/80, um tempo de transição, de mudança de parâmetros e valores em várias instâncias, que refletiu na música. Há toda essa tensão e essa sensação de pertencer a vários momentos e lugares ao mesmo tempo na música dos sujeitos. Para não dar uma cara essencialmente nostálgica ao seu trabalho, Tennis confere um revestimento Lo-Fi atualíssimo, que funciona bem e, sim, disfarça as ambições revisionistas da dupla. Nada errado nisso, especialmente se houver um ramalhete de canções belas como é o caso deste quarto álbum, Yours Conditionally.

Senso de humor não falta à empreitada. Não é nada no setor de causar risos em quem ouve, mas na absoluta habilidade que Patrick e Alaina possuem em emular climas sutilíssimos e mensagens que funcionarão como sinalizadores brilhantes em noites escuras para quem teve a chance de estar vivo no planeta naquele tempo. Claro, isso não inviabiliza a curtição para quem é mais jovem, pelo contrário. O painel musical que a dupla apresenta aqui fala por si, ainda que, sim, seja bastante divertido buscar referências de comerciais cafonas que as emissoras de TV aberta veiculavam, ou, melhor ainda, séries como Magnum ou Casal 20, entre outras, que continham personagens cujo visual se assemelha muito à capa do disco de Tennis. Como dissemos, longe de ser uma piada, a ambiência retrô oferecida aqui tem potencial semelhante à que um Daft Punk oferece em seus discos recentes, ou seja, tudo aqui tem aquela aura de modernidade que não foi adiante, substituída por parâmetros que vieram logo depois.

É impossível não ver as virtudes que canções como In The Morning I’ll Be Better e Ladies Don’t Play Guitar possuem. Refrãos grudentos, bom trabalho de guitarra – a cargo de Patrick – aquela eletrônica de fundo de quintal conferindo improviso e baixo orçamento a tudo e, sob esta camada de adereços, baitas melodias Pop douradas, de almanaque, como manda o figurino. Há mais charmes, entretanto. A voz de Alaina é na medida entre o drama e o sexy, fazendo bonito tanto como principal, como aumentada, duplicada, como vocal de apoio. Além disso, a moça também assina algumas frases de teclado, emprestando alguma ingenuidade quase irônica aos produtos finais. A produção, a cargo da dupla, também é uma belezura. Matrimony é exemplo de mistura perfeita de melodia linda, arranjo de festa brega de casamento, doçura, lindeza e impressões de ter pensado nela como fundo musical para um passeio na beira da praia com seu amor dos tempos de colégio, que, claro nunca aconteceu.

Várias faixas aqui têm potencial para chegar à primeira prateleira de grandes canções do ano. Baby Don’t Believe é o maior exemplo, uma baita de uma balada Pop Soul em midtempo, com piano elétrico, cordas de gosto duvidoso fazendo a cama e um refrão que faria bonito em qualquer parada de sucesso em 1978/79, provavelmente na trilha sonora internacional de uma novela global. Outro caso é o clima deliciosamente Pop Rock que impregna Please Don’t Ruin This For Me, com violões e guitarras psicodeliquinhas e delicadas, que pontuam a melodia para desaguar em refrão com falsete feminino, uma fórmula que dá certo há bastante tempo. 10 Minutes 10 Years tem uma levada safada, impulsionada a partir da simbiose baixo/bateria, que poderia estar numa canção obscura dos suecos Abba, assim como Modern Woman, outra balada sutil, mas dramática na medida certa.

Este álbum é uma delícia cremosa. Tem elementos para fazer sorrir os velhuscos e causar curiosidade suficiente nos mais jovens, que vão disparar os mecanismos de buscas e influências em seu serviço de streaming e descobrir um mundo cafona, relegado ao esquecimento, mas cheio de graça, cores e tapetes de estampas cafonas no chão da sala, cujas paredes são cobertas por papéis de parede com listras. Não resista.

(Yours Conditionally em uma música: Baby, Don’t Believe)

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BOM PARA QUEM OUVE: Cake, Beach Fossils, Best Coast
ARTISTA: Tennis

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.