Resenhas

The Shins: Heartworms

Grupo volta com álbum interessante

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Ano: 2017
Selo: Columbia/Sony
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Rock
Duração: 41:44
Nota: 3.5
Produção: James Mercer e Richard Swift

James Mercer, o cérebro pensante por trás de The Shins, é um cara sem pressa. Este Heartworms é apenas o quinto trabalho que ele lança em 16 anos de carreira dogrupo. Como tudo na vida, a banda hoje não é mais a que começou sua trajetória como um dos mais promissores grupos do Rock Independente americano pós-milênio. Discos sensacionais como Oh, Inverted World (2001) e Chutes To Narrow (2003) ficaram na poeira desta estrada triste, assim como a aura coletiva que The Shins possuía nessa época. Ao longo do tempo, tornou-se muito mais um veículo para Mercer colocar no papel e gravar suas ideias sonoras, algo que já seria bastante satisfatório. Mesmo assim, algo se perde a cada novo lançamento e esta sensação permanece forte por aqui.

Veja, esta impressão não significa dizer que Heartworms é um disco ruim, mas faz com que percebamos o quão bom ele poderia ser se algumas escolhas fossem diferentes. A primeira é o abraço que Mercer propõe a diversos gêneros e subgêneros da música popular desse início de século, sem apropriar-se de nenhum. Há flertes com Eletrônica, com tinturas psicodélicas, com música dançante nerdificada, New Wave e um monte de coisinhas e coisecas que não atam nem desatam, deixando Mercer no meio do caminho, como se ele quisesse dar aos ouvintes sua versão de cada um desses estilos, o que, descontada a pretensão, não leva o álbum a lugar nenhum. Aquele simpático amálgama de Rock Alternativo noventista com melancolia e pitadas Country Folk de antanho está quase desaparecida.

Algumas canções são deliberadamente esquisitas e eruditas, o que atrapalha muito sua fruição. Painting A Hole é o maior exemplo, uma indigestíssima faixa com tinturas orientais de araque, típicas de quem jamais deve ter pisado num país árabe. Cherry Hearts, com potencial de single, tem sua boa melodia abortada em favor de efeitos estranhos e chatinhos, que flertam com algo do Rock inglês do fim dos anos 1960, mas acaba ficando no meio do caminho. Name For You, a primeira canção é legal, mas poderia ser bem mais interessante. Fantasy Island também peca, apesar de ostentar uma das marcas registradas da banda: a boa melodia. O arranjo parte de referencial sessentista, na onda das baladas psicodélicas da época, mas fica apenas na intenção.

Os momentos mais singelos e legais são, justamente, aqueles em que o grupo não tenta diversificar loucamente seu espectro sonoro. Há belezuras como a confessional Mildenhall, uma baladinha Folk com pitadas eletrônicas, que narra um pouco da infância de Mercer na base aérea americana de mesmo nome, situada na Inglaterra. Ele revisita várias passagens com um olhar carinhoso que só as boas lembranças merecem da gente. A faixa seguinte, Rubber Ballz também faz bonito, com um jeitão de Rock mais clássico e alguns bons efeitos de vocais de apoio, que servem de enfeite para uma melodia sólida e bonita. Dead Alive tem fofura de batidas oitentistas sobrepostas a mais uma linha melódica clássica e cheia de beleza. A faixa título é mais uma pequena balada, que lembra um pouco o início da carreira, com favorecimento de refrãos beatle e linearidade ao invés de enfiar estranhezas por todos os cantos. Nesse mesmo terreno, a boa The Fear fecha o disco com solenidade.

Assim como o disco anterior, Port Of Morrow, de 2012, este fica devendo um pouco mais de simplicidade. The Shins dá a entender que ainda guarda algo daquela inocência esquisita em algum lugar do coração, só faltando a James Mercer se reconectar com ela. Ainda não foi neste novo trabalho, mas pode acontecer no próximo. Ele ainda tem crédito.

(Heartworms em uma música: Mildenhall)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.