Resenhas

Visible Cloaks – Reassemblage

Dupla busca diversidade étnica em suas experimentações eletrônicas

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Ano: 2017
Selo: RVNG Intl.
# Faixas: 11
Estilos: Ambient Music, Avant-Garde e Ethnoambient
Duração: 40'
Nota: 3.5
Produção: Spencer Doran e Ryan Carlile

Reassemblage é um daqueles discos que te põe para pensar sobre o que está ouvindo e nos timbres que está sentindo. Sem a necessidade de letras, a dupla Visible Cloaks consegue ambientar o ouvinte num rico mundo de sons e instrumentos vindos dos mais diversos países e construídos de forma desafiadora, ainda assim reconfortante. Se você gosta de Oneohtrix Point Never, Laurel Halo e Ryuichi Sakamoto (Yellow Magic Orchestra), certamente este é um álbum que você deve prestar atenção.

A obra começa a te fazer pensar já pelo seu título, inspirado num filme da documentarista vietnamita Trinh T. Minh-ha, que em 1982 gravou um longa de mesmo nome sob a cultura senegalesa. O documentário tem uma abordagem diferente do que estamos acostumados, sendo mais observativo e livre de uma narrativa ou narração. Ele tenta explorar a cultura do país sem impor uma visão preconcebida sob ela. O disco, de certa forma, tenta reconstruir essa experiência observativa através da música.

É um compêndio de sons digitalizados de instrumentos reais, como o duduks da Armênia ou balafons do oeste da África, unidos para criar uma colcha de retalhos auditiva que se revela das formas mais diversas e inesperadas. O choque de diferentes culturas sob a batuta da dupla Spencer Doran e Ryan Carlile cria uma experiência sinestésica; relaxante, ao mesmo tempo em que é inquietante. É uma abordagem igualmente exótica e autêntica dessas sonoridades que nos anos 80 seriam apenas descritas como World Music (um amálgama de gêneros criado como marketing para a música não tipicamente Ocidental).

De certa forma, o registro funciona como um experimento de fusão cultural em que esses diferentes sons são colocados num mesmo ambiente e, uma vez soltos, interagem para criar algo novo. Com esse background, apesar de totalmente sintético, o disco se torna bastante orgânico, não só em sua sonoridade como na própria proposta. Até por isso, as vozes no disco vem mais a favor da união de sons do que para entregar uma letra – elas funcionam como mais um instrumento no mix.

Essas fusões se dão de forma etérea, com pinceladas sintéticas e ruídos espalhados pelas faixas ao mesmo tempo em que esses instrumentos “exóticos” pipocam aqui e ali de forma bastante delicada. Se em Screen (faixa de abertura) isso fica claro, com Terrazo (que conta com a participação de Motion Graphics) isso fica ainda mais evidente. Todas das onze músicas (15 na versão digital) são criadas mais ou menos desta forma, esculpidas, moldadas e recortadas a partir dessas ambientações quase minimalistas.

Mas devemos ter em mente que o grupo não criou a roda (ou no caso, essa forma de fazer música ou de agrupar sons). Já nos anos 80, diversos artistas vindos do Japão criaram as principais inspirações para o que viria a se tornar este segundo disco de Visible Cloaks. Reassemblage é algo que ficaria entre uma releitura dessas obras ou uma tradução ambígua, mas nada anacrônica, do que foi feito naquela época para 2017.

(Reassemblage em uma faixa: Terrazo)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts