Resenhas

Congo Congo – Congo Congo

Disco de estreia de supergrupo mineiro traz psicodelia bem construída

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Ano: 2017
Selo: La Femme Qui Roule
# Faixas: 8
Estilos: Psicodelia, Rock Psicodélico
Duração: 37:00
Nota: 3.5
Produção: Congo Congo

Ser psicodélico vai muito além do estereótipo sonoro-lisérgico dos anos 1960/70. Na verdade, quando estudamos um pouco mais o conceito, percebemos que o que realmente impulsiona esta estética para novos horizontes é justamente a ousadia e constante reinvenção destas fórmulas. Assim como Tame Impala o fez em seu último disco Currents, a partir do momento em que o artista se recusa a trazer limitações estéticas a seu trabalho é que ele traz uma experiência psicodélica cada vez mais autêntica, uma vez que ela se vale principalmente do aspecto sensorial e, porque não dizer, da surpresa. Desta forma, fica claro que o grupo mineiro Congo Congo fez seu dever de casa, ao estudar profundamente estas relações e formas de composição para trazer a tona um disco de estreia que nos cativa tanto pelo domínio pleno da música psicodélica dos anos 70 quanto pela transgressão dos lugares comuns do gênero.

Congo Congo é um trabalho fruto de um grande feito: reunir em uma mesma banda membros de projetos de gêneros diferentes entre si, alguns complementares entre si e outros bastante opostos. Talvez este ambiente extremamente diverso, rico e desafiador tenha sido o ingrediente principal para a produção do disco, afinal, a mistura de ideias de naturezas diferentes construiu aqui uma sonoridade bastante peculiar. Esta, por sua vez, pode ser bastante associada à Psicodelia mas não deve ser uma simplificação do rico registro.

É claro que os reverbs, os timbres hipnóticos de sintetizadores e os riffs instigantes nos fazem encarar o disco desta forma, porém, este elementos só estão aí pois são catalisadores deste processo árduo e fascinante de juntar estas referências tão diversas. Em outras palavras, a psicodelia de Congo Congo não vem do estereótipo e sim das sensações desconhecidas que experimentamos ao tentar identificar o oceano de diferentes direções ao qual estamos submetidos.

Into The Breeze e Moon Moon marca o início desta fantástica viagem com um arranjo que cedo já denuncia uma influência clara de Pink Floyd e Tame Impala. A seguir, The Original Congo pode começar a nos guiar por um caminho parecido com as faixas anteriores, mas logo vai mostrando melodias Pop e riffs quase Noise Rock. Tomorrow Is A Long Way é uma bela balada profundas linhas de baixo e rhodes oscilantes, que nos direcionam para um universo um pouco mais Folk. Tom Tom já levanta nosso ânimo com uma batida mais agitada, mas que ainda reserva características mais densas, quase como um Disco espacial. Silent Speech, por sua vez, traz um arranjo ríspido que altera seus humores de forma brusca e surpreendente. Por fim, Poor Boy encerra o trabalho trazendo a influência da Psicodelia contemporânea mais clara diante de todas as referências pela qual passamos até o término do trabalho.

Congo Congo é um disco de estreia que revela um talento inquestionável dentro da cena psicodélica brasileira. Podemos esperar bons frutos deste supergrupo, mas por ora, ficamos com a certeza de que dentro Minas há algo fantástico acontecendo, muito além do Rock Triste. Um registro que pode ser encarado tanto de forma macro (psicodélico) quando microscópica (uma junção de grandes referências).

(Congo Congo em uma faixa: Poor Boy)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique