Resenhas

The Tape Disaster – Oh! Myelin

Banda gaúcha lança disco com boas intenções e problemas na produção

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Ano: 2017
Selo: Sinewave
# Faixas: 8
Estilos: Post Rock, Instrumental, Experimental
Duração: 25:24
Nota: 2.0
Produção: Sebbastian Carsin

A banda gaúcha The Tape Disaster anunciou este Oh! Myelin como o seu primeiro álbum ou, como diz o site de sua gravadora, o primeiro trabalho “full length”. A despeito de conter oito faixas, compreendidas em apenas 25 minutos, duração de um EP, vamos manter o entendimento deste trabalho como sendo um disco, daqueles que a gente compraria em formato de CD há algum tempo. Também vamos cumprir a tarefa de explicar a esperteza do título, uma exclamação para a tradução em inglês de “mielina”, uma substância que atua no cérebro, facilitando a transmissão de impulsos elétricos. Certamente era desejo da banda que essa explicação fosse associada às canções do disco e que a inquirição a seu respeito fosse feita sempre. Vamos também dizer que as faixas são eminentemente instrumentais, ao estilo do que é este rótulo tão abrangente e condescendente, conhecido como “Post Rock”. Fez música instrumental, viajante, calcada em guitarras, com influência de Pós-Punk ou Rock noventista alternativo, automaticamente fez Post Rock.

Bem, sabemos que a banda – sem trocadilho – não toca desse jeito. No caso de Tape Disaster, sim, a ideia dos sujeitos é fazer uma música livre de amarras, que dê espaço para o ouvinte empreender sua abstração com mais possibilidades, livre de letras, embebido por guitarras e por uma – boa – bateria. Mas, e daí? O que vem além disso? Sabemos que a produção do disco, a cargo da própria banda e de Sebbastian Carsin, falha totalmente em oferecer um mínimo de revestimento às canções e aos instrumentos, dando às vezes a impressão que estamos ouvindo uma fita demo. Nem dá pra dizer que estamos diante de algo próximo do Lo Fi, o que justificaria com certa malandragem o primarismo da produção. Dá pena, pois os músicos são bons e têm certa criatividade nos timbres e levadas, apesas de demonstrar um certo apreço excessivo aos grooves de bateria dos anos 1990 e as guitarras se alinham numa órbita em que Progressivo e Math Rock se encontram e, como dois bicudos, não se beijam.

Há algumas boas músicas. Eu Não Vou Mais Voltar seria ótima se tivesse alguma boa letra em português, com seu jeitão de Clube da Esquina revisitado. 3×4 também vai nesta mesma onda, apesar de pender mais para o Rock complicadinho do que para as paragens verdejantes da mente. Tsuru também vai pelo caminho mais tedioso, de mostrar evoluções e peripécias nos instrumentos, sempre colocando a boa composição mais perto do esquecimento. Turva, a última faixa, é o grande alienígena aqui: eletrônica, com timbres estranhos e ares espaciais, ela surge como uma boa amostra do que a banda pode fazer se estiver mais livre de amarras, como o rótulo na qual deseja se inserir.

Com um pouco mais de liberdade, incorporação de timbres eletrônicos e sua alternância com instrumentos convencionais, além de umas letras aqui e ali, podemos pensar que The Tape Disaster pode surpreender. Até lá, sobretudo com este tipo de produção, a banda não vai muito longe, infelizmente.

(Oh! Myelin em uma música: Eu Não Vou Mais Voltar)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.