Resenhas

Guided By Voices – August By Cake

Robert Pollard chega a impressionante marca de 100 álbuns lançados

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Ano: 2017
Selo: Guided By Voices
# Faixas: 32
Estilos: Garage Rock, Rock Alternativo
Duração: 71
Nota: 2.5
Produção: Robert Pollard

Existe um exercício psicanalítico para o autoconhecimento que consiste em anotar, todos os dias pela manhã, os sonhos da noite anterior. Com o passar dos anos, as páginas e mais páginas de escrita, que individualmente consistem em pequenas narrativas surrealistas, haverão de revelar os padrões escondidos nas camadas mais profundas e verdadeiras de nosso subconsciente.

É possível que assim também seja com a obra de Robert Pollard, esse maluco prolífico que parece estar trancafiado em um quarto desde os anos 80 produzindo tanto quanto seu corpo consegue. Se contarmos os trabalhos lançados com a banda Guided By Voices, sua carreira solo, ou outros projetos paralelos como Ricked Wicky, Pollard acaba de chegar ao seu centésimo lançamento com este August By Cake.

Bater a marca dos três dígitos, no entanto, parece apenas uma consequência inevitável para alguém que compõe incansavelmente como Pollard, e, além disso, insiste em gravar e lançar em formato de álbum tudo aquilo que suas mãos já criaram. Vale notar, apesar disso, que August By Cake carrega consigo ainda outros diferenciais nesse vasto oceano que se tornou a biografia da banda. Em primeiro lugar, é o primeiro álbum duplo do grupo. Em segundo, é também um dos raros que escapam do monopólio absoluto de Pollard na confecção: para atingir a marca das trinta e duas faixas o artista pediu que seus companheiros de banda compusessem duas músicas cada um, tornando o lançamento da vez um miscelânia colaborativa difícil de ser vista neste trajetória.

Sonoramente, no entanto, nada escapa à lógica que já estamos acostumados a ouvir neste âmbito. Há uma crueza, um senso de urgência marcante nas três dezenas de faixas que ouvimos: guitarras ardidas cheias de distorção, vocais ríspidos e uma bateria cardiovascular são feitas com pressa e sem polimentos, como se não houvesse tempo para se ouvir uma segunda vez o que se acabou de fazer.

Essa noção vale também para a audição do trabalho. Não há porquê atentar demasiadamente para os detalhes de August By Cake (ou sua falta de detalhes, dependendo do ângulo sob o qual se vê), já que, honestamente, não há tempo hábil nesse mundo que torne possível acompanhar pormenorizadamente a obra de Pollard. Rockzão cru de garagem old school, típica sessão de descarrego espiritual que cheira à início dos anos 90. É ouvir e partir pra próxima.

(August By Cake em uma música: Overloaded)

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BOM PARA QUEM OUVE: Sebadoh, Wire, Ty Segall

Autor:

é músico e escreve sobre arte