Resenhas

Cold War Kids – L.A. Divine

Banda californiana homenageia cidade natal em bom disco de Rock

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Ano: 2017
Selo: Capitol
# Faixas: 14
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 43:13
Nota: 3.5
Produção: Lars Stalfors

Cold War Kids é uma dessas bandas cronologicamente recentes que buscam conexão com um imaginário Rock de quatro, cinco décadas atrás. A ideia é beber de fontes mais límpidas do estilo, mergulhar em riachos ainda não poluídos, nos quais abundam pescados híbridos de R&B, Blues e uma modalidade ainda virginal de Rock’n’Roll, no máximo reinterpretada pelos primeiros ingleses que tentaram imitar os grandes fundadores negros dos anos 1950. Buscar tal inspiração não significa fazer uma sonoridade velhusca, datada, isto é, se você e sua banda forem competentes o bastante. Este, felizmente, é o caso dos sujeitos, que já chegam à marca do sexto álbum com este bom L.A Divine. Como o nome já adianta, é um disco em homenagem à cidade de Los Angeles, berço do grupo. Homenagear sua vizinhança não é expediente novo, pelo contrário, só em relação à “Cidade dos Anjos”, ele já foi usado por toda sorte de artista, desde Frank Sinatra a George Benson, passando até por gente que se achava muito mais próxima do que anunciava o referencial geográfico, caso dos irlandeses U2 em seu álbum The Joshua Tree.

No caso de Cold War Kids, certamente a naturalidade territorial lhe confere mais autenticidade e envolvimento emocional, o que funciona muito bem em sua música, ela mesma cheia de emoções já naturalmente. Mesmo assim, o disco funciona sem que este fator precise se manifestar. A produção de Lars Stalfors, que já trabalha com o grupo há tempos, consegue escapar as armadilhas do “som vintage”, que seria um caminho confortável para a banda, com uma moldura sonora bem moderninha, cheia de bons efeitos de estúdio e um uso hábil de instrumentos clássicos, caso do piano, além dos vocais de apoio. A boa capacidade do vocalista, guitarrista e pianista Nathan Willett é enfatizada por todo o álbum, algo que colabora para que as canções fluam naturalmente, abraçando bons híbridos climáticos de Rock e modernidade padrão 2017.

As faixas de L.A Divine apresentam um predicado raro nestes tempos: elas dão a pinta de que podem crescer muito ao vivo. Poucas bandas da atualidade são boas realmente de palco e/ou nos despertam curiosidade neste sentido, com sua maioria buscando pouca ou nenhuma nova timbragem ou alguma mínima novidade em relação às versões em estúdio. A ótima Open Up The Heavens, enfiada no meio do disco, tem alto potencial para crescimento em cima de um palco, com os músicos a fim de enguitarrar e turbinar a melodia. Outros bons momentos surgem aqui e ali: a abertura pianística com Love Is Mystical quase usa de progressões Gospel e merecia vocais de apoio neste clima. Mesmo assim, o bom uso das teclas e o andamento invocado, pulante, catártico, garantem a diversão e o respeito pela canção. Respeitável também é a segunda faixa, Can We Hang On?, que investe na mesma conexão espiritual do Rock, algo certamente perdido há bastante tempo. A banda coloca melodia clássica, arranjo respeitoso e mergulha no refrão: “think about the old days…”.

O legal por aqui é ver como a banda consegue, de fato, soar urgente com todo este pedigree clássico. So Tied Up – Bishop Briggs e Restless são bons exemplos de canções modernas, legais, bem feitas, que exibem uma herança tradicional e, nem por isso, poderiam ser acusadas de se parecerem com algo “velho”. Outra boa faixa com potencial para crescimento ao vivo é a excelente Luck Down, com menos de três minutos de melodia impulsionada por bateria marcial e instrumental que vai chegando aos poucos, brincando de esconde-esconde com o ouvinte, mostrando aos poucos o potencial da banda e o da própria canção. As duas músicas que encerram o disco pisam no freio intencionalmente e mostram a habilidade da banda no terreno das baladas. Part Of The Night nem se enquadra numa canção “lenta”, pois tem andamento em midtempo e bom trabalho de bateria, mas a faixa de encerramento, Free To Breath tem arranjo voz/teclados, mostrando-se contemplativa, serena, reflexiva.

Cold War Kids é uma boa banda de Rock dos nossos tempos. Ela pode não ter alguns elementos que fãs de aspectos mais tradicionais do estilo acham indispensáveis, mas, ao mesmo tempo, carrega em suas canções inegáveis referências que podem surgir como novidade para muitos fãs que as desconhecem. É o tempo indo e vindo, como deve ser.

(L.A Divine em uma música: Love Is Mystical).

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.