Resenhas

The New Pornographers – Whiteout Conditions

Banda canadense lança novo álbum dançante e tecladeiro

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Ano: 2017
Selo: Concord
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Power Pop
Duração: 41:15
Nota: 4.5
Produção: Carl Newman, John Collins

Os canadenses da banda The New Pornographers estão de volta após três anos de dedicação a projetos paralelos e/ou descanso. Liderados por Carl Newman e Neko Case e sem a presença de sócios-fundadores como Dan Bejar e Kurt Dahle, os sujeitos entregam este Whiteout Conditions, que é seu sétimo álbum, com interessantes diferenças em relação a obras anteriores. Assim como muitas bandas de seu tempo (a virada dos anos 1990/00), como Rilo Kiley e The Shins, por exemplo, os Pornographers buscaram um equilíbrio entre três caminhos estéticos/melódicos: Rock Alternativo estadunidense dos anos 1990, Power Pop e flerte com bandas setentistas tradicionais e bem sucedidas como Fleetwood Mac ou Eagles. Esta mistureba, apesar de viável, gerava resultados legais mas que ficavam devendo em algum ponto do percurso entre a composição e a execução/produção. Tal dilema impediu, talvez, que essa geração de bandas ultrapassasse o underground ou que o tenha feito a custo de perda identitária no meio do processo.

A verdade é que as gravações dessa gente sempre foram boas, mas tais bandas talvez não tenham conseguido se reinventar ou acrescentar elementos que tornasse mais equilibrada sua alquimia sonora. Mais ou menos quando estamos fazendo um molho bolonhesa e precisamos acertar o sal. Agora, neste novo trabalho, os canadenses encontraram uma gloriosa saída: trazer sintetizadores oitentistas para a mistura, colocá-los na frente e gerar um álbum ao qual o glorioso site All Music Guide se referiu como “um disco dos anos 1980 que amadureceu, leu e cresceu”. É exatamente isso: ao reposicionar seu poderio sonoro na aurora da New Wave/Pós-Punk, The New Pornographers ganhou em capacidade dançante, não abriu mão de certa valorização das letras (sempre boas) e gerou canções sobre as quais podemos refletir seriamente e incorporá-las às nossas vidas enquanto rachamos a cabeça de tanto dançar/encher o pote. Parece fácil e simples, mas não é.

A ausência de um esquisitão de nascença como Bejar pode ser a chave para este entedimento. Ou a rendição de todos a uma postura mais desencanada, com gravações nas quais os vocais de Newman e Case se casam, trocam de protagonismo, gerando excelentes exemplos de harmonia, além do excelente uso dos teclados, todos com maravilhosos timbres, emulando fraseados e passagens divertidas e belas, tanto para quem gosta de, sei lá, Future Islands como de Blondie. Como já dissemos várias vezes por aqui, de nada adiantariam todos os movimentos de revisão de carreira se não houvesse belas canções para suportá-los. Neste caso, The New Pornographers não precisam provar nada para ninguém, pois entregam boas composições desde que ainda estavam tocando nos buracos de Vancouver, sua cidade natal. Sempre foram capazes de obter belos refrãos, ótimas soluções sonoras, tudo como manda o figurino.

Aqui, muito por conta do espírito festeiro do álbum, esta habilidade foi desprendida de paradigmas cabecistas e o popismo de bom gosto corre livre, leve e solto. Exemplos sensacionais estão em This Is The World Of The Theatre, uma deliciosa e aerodinâmica canção que parece misturar a doçura de girl groups dos anos 1960 com modernidade pretérita e tecladista. Darling Shade é puro Pop luminoso e dourado, Second Sleep, por sua vez, revive timbres de bandas oitentistas como Ultravox para oferecer moldura para melodias próximas da perfeição. A melhor faixa, a sensacional Colosseums, lembra B-52’s. O uso desta coleção de recursos sintéticos é feito sob as lentes da contemporaneidade, não afetando a desenvoltura da banda, mas credenciando-a para ir e vir destas referências com autoridade. Além do mais, todos parecem se divertir bastante durante o processo.

Com este novo trabalho, os canadenses ganham enorme fôlego para suas criações futuras e deixam o ouvinte com muita curiosidade sobre como tais arranjos serão recriados ao vivo. A maestria das composições e a proposta sonora deste disco são marcas de uma banda com entendimento perfeito da importância que a renovação – sem abandonar personalidade – tem para a música Pop. Grande.

(Whiteout Conditions em uma música: Colosseums)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.