Resenhas

Kasabian – For Crying Out Loud

Grupo inglês faz “álbum de verão” com canções alegres e eficazes

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Ano: 2017
Selo: Sony
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Britpop
Duração: 51:03
Nota: 3.5
Produção: Sergio Pizzorno

Kasabian é uma boa banda que tem um problema mais ou menos sério: a falta de personalidade. Seu híbrido de Rock 00 com Acid Rock dos anos 1990 e Britpop à la Oasis pode ter várias faces e valores, ainda que seja quase sempre bem feito e legal. Dito isso, é preciso admitir que o grupo de Leicester fez o seu melhor trabalho neste ótimo For Crying Out Loud, uma porrada muito bem produzida – pelo Kasabian-chefe Serge Pizzorno – que evoca, agora sem qualquer problema, essa boa herança de influências. Se essa galera sentia algum constrangimento em soar derivativa demais, agora toda essa cintura presa foi pras cucuias e temos neste disco o primeiro representante do que a gente chama de “álbum de verão” em 2017: canções arejadas, pulantes, dançantes, com boas sacadas de estúdio e uma alegria que gruda aos ouvidos.

Tanto é um compêndio de músicas para ouvir no verão que a própria banda entoa, logo na abertura de Wasted, quinta faixa: “summer is here once again” e dá a confirmação que tudo por aqui sugere: é hora de dar uma sacudida no esqueleto, dar uma geral nos/nas crushs e dar uma desopilada nas ideias. Veja, quando o grupo pede/propõe isso, tem uma ingenuidade embutida que, apesar de soar desconectada com a época embrutecida que vivemos, é bem vinda por soar sincera o tempo todo. Kasabian está dando um belo chute no balde e apontando para um prazo curto, porém garantido de fruição, aquele que compreende gente disposta a ouvir boas músicas, dançar, viver um pouco e, quem sabe, lembrar do que for mais importante por algum tempo. Além do fã médio de música, há, claro, os fãs do grupo, que não torcerão o nariz para a proposta do álbum, abraçando tudo e todos.

Mais que o verão e a proposta, Kasabian não esqueceu o que realmente importa nesse negócio musical: boas composições. Elas estão por todos os cantos do álbum, oscilando entre os rockões mais encrespados e algumas outras faixas que pegam mais pesado nos grooves e levadas herdadas lá dos tempos das calças baggy do início dos 1990. Também há momentos climáticos/chapados, como também convém a um trabalho que dá uma geral no lado brilhante das coisas, caso da sintomática The Party Never Ends, que soa como alguém tentando levantar da cama de manhã sem conseguir reunir forças para tal. Aqui a voz de Chris Edwards dá o tom exato da largação, enquanto a produção vai encaminhando a faixa para riffs de teclado que são engolfados por uma boa levada de bateria e um ritmo hipnótico, complementando tudo. Os grandes momentos, no entanto, vêm das canções mais “pra cima”: o rock bombástico Comeback Kid, que entrou na trilha sonora do Fifa 2017, mostrando a afinidade da banda com o time de sua cidade natal, campeão pela primeira vez da Premier League no ano passado.

Além da homenagem ao Leicester e a tudo o que envolve a conquista futebolística, há outras ótimas faixas por aqui: o single You’re In Love With A Psycho consegue fundir ambiências Pós-Punk oitentistas e modernidade padrão 2017, mostrando a habilidade de Pizzorno como produtor. A faixa de abertura, um híbrido dance rock da melhor qualidade, Ill Ray (The King) é uma cacetada na cara do ouvinte, que é empurrado para a pulação logo de cara, sem ter muito tempo para raciocinar. Outro destaque é a soberba Are You Look For Action?, que deve os fundilhos à melhor tradição Primal Scream, com levada e vocais privilegiando ótimo trabalho de guitarras e batidas, tudo amalgamado e resultando num caldo com bastante sustância. Bless This Acid House é a confirmação da inspiração maior de tudo por aqui.

Com um disco arejado, porém muito bem composto – em seis semanas – e produzido, Kasabian reivindica seu lugar entre as boas bandas da atualidade, honrando seus propósitos e influências, se apropriando de tudo e batendo no peito com orgulho e disposição. Ouça.

(For Crying Out Loud em uma música: Are You Look For Action?)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.