Resenhas

Mew – Visuals

Dinamarqueses lançam álbum com bons climas e canções

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Ano: 2017
Selo: Play It Again Sam
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Dream Pop
Duração: 43:47
Nota: 3.5
Produção: Jonas Bjerre

Mew vem da Dinamarca e oferece uma modalidade mais bela e gelada de Rock/Pop contemporâneo neste seu novo trabalho, Visuals. Desde o início, algum alarme de “audição de bandas escandinavas” dispara nos ouvidos do crítico musical, sinalizando que há elementos estranhos e simpáticos na música feita pelo grupo, que dão conta de sua origem relativamente exótica. Não são os vocais, que mais parecem uma derivação articulada (em inglês) do que é apresentado por Sigur Rós, entrando no campo do agudo, do quase inumano, algo que Mew consegue fazer (assim como os islandeses) soar harmonioso e indistinto em relação à argamassa sonora que apresenta. Decido então que é algo nos teclados, mais presentes do que em bandas usuais, muito bem tocados e com timbres que alcançam momentos de originalidade.

Sim, além disso, dessa confortável estranheza e dos teclados bem postados, há uma sólida banda de Rock com boas composições e um plano. Seguindo a regra comercial da disputa de concorrentes no mercado que coloca em protagonismo os competidores que podem apresentar algo de diferente, Mew se posiciona de forma privilegiada. Visuals é um feixe de onze composições cheias de ganchos melódicos, arranjos fluidos e ótimos momentos vocais que fazem a banda arranhar o campo do Dream Pop, aquela modalidade cheia de cordas e teclados que costuma fazer carinhos nos ouvidos mais sensíveis. De fato, o que ouvimos por aqui são ótimas canções para variar em grande estilo dos nomes mais usuais do Pop Rock internacional, com esta variante sensível e gentil que o grupo propõe. No meio do caminho, fica evidente que ninguém aqui se descuida da qualidade das músicas, todas redondíssimas e coerentes.

A presença dessa fórmula musical não sugere previsibilidade. Enquanto há belos espécimes harmoniosos e “previsíveis”, caso das duas faixas iniciais, Nothingness And No Regrets e The Wake Of Your Life, a terceira, Candy Pieces All Smeared Out, cutuca um pouco o ouvinte com alguma percussão e guitarras dissonantes no arranjo, que sugere a disputa entre a harmonia gelada e esses elementos estranhos. A mixagem joga a favor do grupo e a chegada de uma nova canção In A Better Place, mostra um registro muito próximo do que os ingleses Keane oferecem atualmente. Vocais agudos, teclados dominantes e essa variante ártica/báltica de música, uma coisa que tem a ver com o clima, com o gelo derretendo ou outra imagem desse tipo. De qualquer maneira, o encaixe entre esses elementos subjetivos e a estrutura das canções se dá de maneira muito bem feita.

Outras boas canções surgem facilmente no percurso até o fim do álbum. Ay Ay Ay é uma curiosa composição com belos pianos e uma aura “Tears For Fears com vocais trocados”, que acaba funcionando como agradável curiosidade. Learn Out Crystals é um abraço fraterno nessa tal sonoridade polar a que nos referimos mais acima, com belos timbres de guitarra dobrando-se em relação aos teclados, formando um painel belo e coerente. 85 Videos se abre em relação aos timbres oitentistas, se valendo de bela bateria (mais musculosa que nas outras faixas) e incorpora certa levada mais rítmica, algo que faz muito bem à onda do grupo. Zanzibar, nome da Tanzânia nos tempos em que fazia parte do Império Britânico, é uma curta e exótica pitada de originalidade neste painel, algo que cai muito bem, com mais jatos gelados e um clima de expectativa que vai crescendo, mesclando-se à última canção do álbum, imersa nos mares do Progressivo Pop, Carry Me To Safety, com um registro vocal que lembra demais o de Jon Anderson, vocalista do Progressivo Yes durante décadas. Bonito.

Com a regularidade nas composições e o ótimo gosto nos arranjos, Mew é uma boa aposta para o cenário atual do Pop Rock. Com uma carreira mais longo do que parece (21 anos já) e oito discos lançados, podemos entendê-los como jovens veteranos neste ofício. Ouça.

(Visuals em uma música: Carry Me To Safety)

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BOM PARA QUEM OUVE: Tame Impala, Keane, M83
ARTISTA: Mew

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.