Resenhas

Portugal The Man – Woodstock

Banda americana abusa da diversidade de estilos em seu novo trabalho

Loading

Ano: 2017
Selo: Atlantic
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Psicodelia
Duração: 38:35
Nota: 3.0
Produção: Mike D, Danger Mouse, John Hill

Aceite meu conselho: se você tiver algum/a amigo/a de outro planeta chegando à Terra por estes dias e ele apareça perguntando sobre o que é o Rock em 2017, apresente este novo disco de Portugal.The Man. Ele tem todos os méritos e defeitos e fornecerá uma ideia muito nítida do que é o estilo na atualidade, em boa amplitude. Vários produtores, vários engenheiros de som, várias nuances de influências, uso ostensivo de samplers, eletrônica, conceitos mais ou menos fechados e um certo cinismo marketeiro fazem do Rock “moderno” esta colcha de retalhos portátil, a tal ponto que o próprio termo “rock” soe demodê. De fato, há pouco nas dez faixas de Woodstock que lembre os signos e significados roqueiros de algum tempo atrás. Como dissemos, isso não é bom nem ruim. Apenas é.

O título do disco surgiu quando o pai do vocalista John Gourley achou seu ingresso para o primeiro dia do famoso festival musical e deu ao filho. A partir daí, tudo o que significaria qualquer homenagem/citação ao evento se restringe ao uso de samples de Freedom, canção com a qual o falecido cantor Folk Richie Havens encerrou seu show naquela tarde de sol e lama. Esta (sub) versão atual e dissimulada ganhou o título Number One e serve para dar as boas vindas ao ouvinte, com um aviso: viemos para confundir e não para explicar. Tal proposta é sempre legal, uma vez que apreciar uma obra de arte, seja ela de qualquer procedência, é sempre melhor quando há a surpresa em algum ponto do caminho. O que Portugal oferece aqui é um feixe de canções que se conectam por um quase total descompromisso em seguir um fio condutor lógico a ponto de soar quase como várias bandas em uma. Parece uma versão musical do último filme de M.Night Shyamalan, Fragmentado.

Há espaço para esta faceta indie/eletronizante, que logo abre o disco, passando para um flerte com uma Psicodelia atualzinha, com batidas corretas e espírito esvoaçante, que se impõe na alternância de vozes, efeitos e uso de programações por todos os cantos. Quando você pensa que está diante de um álbum que vai te levar para ver elfos saltitanes no parque, chega a noturna e ritmada Live In The Moment, que lembra algo do que Muse vem fazendo atualmente, algo que lembra um boogie eletrônico e cheio de coisações. A melhor canção do álbum chega logo após, a ritmada Feel It Still, que não faria feio num álbum de gente como Pharrell Williams, tal o seu potencial dançante e seu flerte modernete com o R&B mais clássico.

A esta altura do campeonato, você está tão desorientado quanto aquele simpático simpático urso dos velhos desenhos do Pica-Pau. Rich Friends não ajuda, pelo contrário, traz um Popzão de bateria eletrônica e aura arenística, que é desmentido logo em seguida, com a chegada de outra canção mais convencional, a boa Keep On, com andamento dançante e bons diálogos de guitarras e ambiência em geral. So Young é outro bom flerte com essas variações do R&B, que se tornaram mais familiares às bandas de Rock nesses últimos tempos, algo que se repete na faixa seguinte, Mr. Lonely, que tem intervenções hip-hopescas a cargo de Fatlip, do grupo The Pharcyde. O abraço ao pop mais convencional, ainda que pareça com diluições do que The Flaming Lips faz hoje, chega com as duas últimas canções: Tidal Wave e Noise Pollution.

Ainda que seja legal este jogo de gato e rato, a falta de coesão é o grande problema de Woodstock mas não chega a comprometer sua audição. Algumas boas composições e ideias se fazem presentes mas isso não é suficiente para tirar a aura de “difícil” do álbum. Fica pra próxima, Portugal.

(Woodstock em uma música: Feel It Still)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.