Resenhas

Waxahatchee – Out in the Storm

Katie Crutchfield faz álbum direto de Rock com pé no Lo-Fi

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Ano: 2017
Selo: Merge
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Lo-Fi
Duração: 32:47
Nota: 3.5
Produção: John Agnello e Katie Cruchtfield

O projeto Lo-Fi da cantora e guitarrista Katie Crutchfield evoluiu de algo totalmente pessoal e gravado no quarto de casa para algo mais próximo de uma banda de Rock propriamente dita, com direito a coprodução. Se pensarmos bem, coprodutor em disco Lo-Fi é um contrassenso, mas a presença de um cara como John Agnello, que já trabalhou com Sonic Youth é um sintoma natural do avanço do tempo. Hoje em dia, Waxahatchee é uma banda de mulheres, com formação de baixo, bateria, guitarras e voz, devidamente comandada pelo espírito livre e contestador de Katie, orbitando um ethos sonoro muito próximo do Rock noventista americano, aquele menos prestigiado e holofotado, que alimentou os subterrâneos da América por toda aquela década. Este bom Out In The Storm é o terceiro registro de Katie, o primeiro com esta estrutura mais formal. E tudo funciona.

Estamos diante de um típico disco descompromissado e eficiente de Rock. Há guitarras proeminentes, bateria direta e reta, voz fofa de Katie conduzindo tudo, procurando resolver de forma objetiva as canções e os arranjos, enfatizando o barulho melódico, essa fórmula mágica. Em alguns momentos, claro, o pessoal baixa a bola e surgem algumas canções lentinhas e contemplativas, tudo muito sincero e bem feito. Este painel consolidado vem, justamente, do crescimento de Waxahatchee como um projeto, digamos, mais convencional, algo que era necessário nas apresentações ao vivo do início da carreira. Então, sob essa forma de banda mais convencional, as canções cresceram, a abordagem ficou mais clara e tudo melhorou. A boa notícia é que, mesmo com a impressão de estarmos ouvindo uma banda convencional, há um revestimento de baixo orçamento material por todo o álbum, mantendo aquela impressão de informalidade que faz a delícia dos que gostam do Lo-Fi enquanto formato de expressão na música Pop.

Como vocês já sabem, nenhum disco de música minimamente Pop – é o caso deste – não sobreviveria muito tempo sem boas canções. Elas estão presentes ao longo destas dez faixas em número bem razoável, mostrando que Katie também entende dos paranauês da composição. É o caso do começo explosivo e melodioso com Never Been Wrong, com guitarras fazendo bonito e a voz de Katie planando sobre a ótima harmonia, fazendo lembrar de momentos mais singelos de bandas como Throwing Muses ou The Breeders. Silver é outro ótimo exemplo deste tipo de canção alternativa americana noventista, com vocais femininos multiplicados, proximidade com algum rebuscamento de arranjo, mas com pé fincado na aura guitarreira. Como falamos, há momentos interessantes de contemplação, caso da ótima Recite Remorse, que tem algo de Pós-Punk e usa até mesmo teclados ambientais, porém aqui o grupo exibe uma grande afeição ao Lo-Fi, ostentando um ar intencionalmente descuidado na produção, que joga a favor.

Sparks Fly já é uma balada mais clássica, com amorzinho e andamento lento, na qual a voz de Katie se destaca por não abusar dos efeitos fáceis do estilo, chegando a lembrar uma Alanis Morrissette no início de carreira. Hear You é outra canção mais agitadinha, com baixo distorcido conduzindo toda a melodia com mais indigência Lo-Fi programada e no ponto. Um riffão rock característico conduz No Question, mostrando que, apesar de pequenos rebuscamentos aqui e ali, Waxahatchee é uma banda de Rock e está confortável com isso. O fim do disco vem com Fade, uma balada dedilhada ao violão, competente e legalzinha.

Discos de Rock deixaram de ser simples nos últimos tempos, um vício recorrente que o estilo exibe de quando em quando. Este aqui é objetivo, direto, nunca simplório. Vale conferir a espontaneidade das canções e este clima informal mas nem tanto, que Waxahatchee encontrou neste meio do caminho. Interessante.

(Out In The Storm em uma música: Silver)

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BOM PARA QUEM OUVE: Liz Phair, TORRES, The Breeders
ARTISTA: Waxahatchee

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.