Resenhas

Tyler, The Creator – Flower Boy

Artista dá guinada na carreira com álbum solar que celebra a sexualidade

Loading

Ano: 2017
Selo: Odd Future, Columbia
# Faixas: 14
Estilos: Hip Hop, Soul
Duração: 46:33
Nota: 4.5
Produção: Tyler, The Creator

Tyler Gregory Okonma, mais conhecido pelo codinome Tyler, The Creator, é um jovem artista californiano de apenas 26 anos de idade. É também um dos integrantes mais proeminentes do coletivo Odd Future, de onde saíram nomes como Frank Ocean, Syd e Matt Martians. Em sua trajetória artística, o rapper ajudou a redefinir as possibilidades do Hip Hop neste começo de século quando, através de uma narrativa audiovisual, construiu uma persona polêmica e violenta rimando sobre batidas eletrônicas sombrias. Flower Boy, o quinto álbum da discografia, foca na produção cristalina e arejada do artista e pode ser considerado uma guinada em sua trajetória.

O tema central de Flower Boy, tal como as constantes metáforas primaveris sugerem, é de fato a sexualidade. O nome do álbum faz alusão à nova persona de Tyler – agora um “garoto floral” ao invés do polêmico Bastard ou do anárquico Goblin que havíamos conhecido em seus trabalhos anteriores -, e a capa nos mostra um jardim florido polinizado por abelhas. No entanto é, na verdade, na produção que a nova música do artista desabrocha de vez, exibindo uma faceta refrescante, solar e relaxada, menos focada no Rap e mais aberta à intervenções do Soul e do R&B (assim como têm feito Anderson .Paak e Childish Gambino em suas respectivas carreiras).

Se o tema da sexualidade, per se, é universal, aqui ele chama a atenção justamente porque Tyler, um artista que já foi bastante criticado por suas declarações homofóbicas e misóginas – e inclusive ter sido banido de um país por conta disto – parece estar finalmente assumindo com integridade quem de fato é. Entre os muitos versos que fazem alusão à homossexualidade do rapper – “I’ve been kissing white boys since 2004” em I Ain’t Got Time, e “You don’t have to hide, I can smell it in your eyes” em Garden Shed, entre os exemplos de mais destaque -, Flower Boy soa como uma celebração pacífica e ensolarada da emancipação. Ou seja, Tyler abandona o caminho obscuro e paradoxal da violência – estrada que ajudou a construir e sob a qual muitos artistas vêm trabalhado recentemente (veja DAMN. de Kendrick Lamar ou Big Fish Theory de Vince Staples) -, focando no seu trabalho de produtor e polindo seus versos ao estritamente necessário, uma manobra inédita em sua carreira até agora.

É claro que a personalidade de alguém não “evolui” por um caminho reto, onde se pode demarcar um “antes” e um “depois” com facilidade. Por isso, ainda vemos sintomas do “antigo” Tyler por aqui: o álbum foi anunciado como Scum Fuck Flower Boy, apesar de, afinal, ter sido lançado sem os palavrões no título. O single Who Dat Boy, escolhido para promover o álbum, é o que mais se aproxima de momentos anteriores na sua carreira, como se servisse de ponte entre dois momentos distintos. Seu clipe ainda aposta na bizarrice de antes, embora mostre Tyler perseguindo sua obsessão pelos jovens Leonardo DiCaprio e River Phoenix.

Tyler parece ser, de fato, “the boy who cried Wolf”. Se, por um lado, falar de identidade e maturidade pode ser um caminho ingrato na análise de obras artísticas, no caso de Tyler cabe afirmar e sublinhar a jogada acertadíssima de elaborar um álbum que celebra a existência e a liberdade.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Cosmo Pyke, N.E.R.D, Frank Ocean
MARCADORES: Hip Hop, Ouça, Soul

Autor:

é músico e escreve sobre arte