Resenhas

Nine Inch Nails – Add Violence EP

Lançamento mantém receita de violência musical do grupo

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Ano: 2017
Selo: The Null Corporation
# Faixas: 5
Estilos: Eletrônica, Pop Alternativo
Duração: 27:01
Nota: 3.0
Produção: Atticus Ross e Trent Reznor

Nine Inch Nails volta com mais um EP, após quase oito meses do anterior, o bom Not The Actual Events. Na verdade, este sombrio Add Violence tem muito em comum com seu antecessor. É o segundo lançamento em que Trent Reznor conta com a presença efetivada de Atticus Ross, outrora seu parceiro em trilhas sonoras para o cinema, devidamente acoplado ao grupo desde o ano passado e já responsável por algumas “sutilezas” nas composições. De fato, Reznor sempre foi e sempre será a mente dominante por aqui, mas a simples colaboração com Ross já mostra o quanto de clima, tensão e medo pode sair a partir da conjunção criativa dessas mentes, digamos, sombrias.

O legal de Nine Inch Nails é o que descrevi na resenha do EP anterior, essa proposição sonora amedrontadora, cinematográfica e, sobretudo, violenta, que, ao invés de causar horror e repulsa, causa curiosidade e nos atiça a continuar experimentando. Enquanto os sintetizadores e batidas erguidos pela dupla vão do registro mais aerodinâmico (em faixas como a inicial e sensacional Less Than) ao mais tenebroso e tenso (na impressionante liturgia de sons que é This Isn’t The Place), a gente sabe que o bicho vai nos pegar, torturar e nos proporcionar momentos terríveis. E cadê que a gente foge? Que nada.

Na verdade, o sombrio que NIN registra aqui e que colore com tons de negro, cinza e chumbo, é o nosso próprio mundo lá fora. Enquanto vamos pensando que estamos ajudando o planeta, salvando o nosso corpo bebendo suco de caixinha e comprando vegetais com agrotóxico no mercado, as pessoas vão morrendo e, quando não vão, estão elegendo Trump e acreditando que a violência e a exaltação de preconceitos é a solução para os problemas do mundo. Essa cacofonia mental tem trilha sonora, algo parecido com os murmúrios sibilados pelos cantos dessas cinco faixas, que podem atingir níveis semelhantes à chegada do próprio Cramulhão para ajustar as contas, caso de Not Anymore. Ou parecer uma terrível fervura num Banho Maria à beira de um vulcão, como em The Background World, com 11 minutos de levada Eletrônica entremeada com ruídos, vocais desconexos, uma trilha sonora de filme de terror moderno.

Quando queremos livrar uma criança dos medos trazidos pelos filmes de terror, costumamos dizer: isso é mentira, não tenha medo dos mortos, tenha medo dos vivos. De alguma forma, Nine Inch Nails é a musificação dessa afirmação, uma trilha sonora para termos medo dos vivos, que estão logo ali. Grande arte.

(Add Violence em uma música: Less Than)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.