Resenhas

Apanhador Só – Meio Que Tudo É Um

Terceiro disco da banda estabelece sua identidade e relevância em forma e conteúdo

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Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 15
Estilos: Pós-MPB, Indie, Indie Rock
Duração: 43'
Nota: 4.5
Produção: Diego Poloni, Alexandre Kumpinski, Felipe Zancanaro e Fernão Agra

Meio Que Tudo É Um mostra-se o melhor momento da carreira de Apanhador Só, uma banda conhecida por seus grandes acertos, sendo este terceiro álbum o ponto mais alto de sua discografia não apenas pela enorme qualidade com que se apresenta, mas também por revelar um grupo que soube trabalhar suas melhores características para gerar uma obra relevante em forma e conteúdo dentro do Brasil atual.

Tem a ver com o espaço que a banda ocupou desde seu homônimo disco de estreia, de 2010, um trabalho de canções de veia pueril, unindo o bom humor aos ritmos brasileiros e o Indie Rock, o que fez com que Apanhador Só virasse referência para um público predominantemente jovem que buscava na música sua identificação com o mundo – o que levaria o grupo ao seu Antes Que Tu Conte Outra, de 2013, um álbum que expressa desde o início a urgência de aproveitar seu posto de evidência para comunicar uma mensagem relevante a essa juventude que vai aos seus shows e compartilha seus versos nas redes sociais.

Lançado em um 2017 mais do que atribulado, Meio Que Tudo É Um encontra sua voz ao engatar uma marcha um pouco mais lenta, com mais violões do que as guitarras dos anteriores e sem deixar de lado um aspecto experimental que acumulou ao longo dos anos, principalmente pelo projeto Acústico-Sucateiro. O resultado é um disco “torto” o suficiente, cheio de pequenas surpresas, mas que sabe também agradar o ouvinte com belas melodias e arranjos a cada par de minutos.

Há um equilíbrio bastante saudável entre o que é poesia e o que é crítica, além de um convite para ambas caminharem juntas desde a abertura com Sol da Dúvida. Os temas bastante urbanos (como visto em Metropolitano e Viralatice dos Prédios) são adornados por grandes colagens sonoras de gravações bastante múltiplas adquiridas pela banda durante turnês, experimentações no estúdio e mesmo no dia a dia, o que faz com que a obra seja sempre imersiva, até mesmo sinestésica.

Isso ampara também as sutilezas presentes na obra, seja a “crítica social foda” em frases soltas de Isabel Chove, ou no comentário apresentado com graça em Teia – que comenta a época de muitos gritos que vivemos e ajuda a entender a postura mais branda, ainda que precisa, que o trio realiza nesta obra.

Outro ponto alto é a retomada de um conteúdo contemplativo e ponderador em nível mais pessoal, que gerou no passado músicas como Cartão Postal e Rota, trazido aqui por canções como Pelos Olhos do Mundo, Sopro e O Corpo Vai Acabar. Ao lado de momentos absolutamente belos, como Paso Hacia Atrás e Bastas, elas ajudam a manter uma conexão sentimental do ouvinte com o que a banda canta, não sendo só receptora de um discurso “cabeça” ou entretida pelo senso de humor que aparece aqui e ali.

E esse é o grande barato do disco, o quanto ele oferece uma visão de mundo esclarecida (ou assumidamente questionadora) sem deixar de lado o coração, como ele apresenta as questões que cercam o indivíduo como intrínsecas àquilo que está dentro dele – “o mundo se vê através dos meus olhos/ que não são meus/ eu vejo o mundo/ pelos olhos do mundo meio que tudo é tudo/ meio que tudo é um” -, fazendo com que olhemos para Apanhador Só como a banda que sabe oferecer de uma só vez o incômodo em Conforto, o sentimentalismo de Linda, Louca e Livre e a maestria-dos-versos-à-la-Mauricio-Pereira de O Creme e o Crime e entendemos daí não só a maturidade atingida, mas sua identidade e relevância no cenário em que se encontra.

(Meio Que Tudo É Um em uma música: O Creme e o Crime)

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BOM PARA QUEM OUVE: Mauricio Pereira, Baleia, O Terno
ARTISTA: Apanhador Só

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.